domingo, 28 de fevereiro de 2010

MINHAS ORIGENS ENTRE CEREJAS E VINHAS

1 MARINHEIRO DE PRIMEIRA VIAGEM (II) – Partindo da Estação Ferroviária de Santa Apolônia - lá para os lados da Praça do Comércio, relativamente perto do Rossio, onde nos hospedamos em Lisboa - fomos para Oliveira de Barreiros, aldeia onde nasceu meu pai. Saltamos do trem para baldeação em Santa Comba Dão, terra natal de Antonio de Oliveira Salazar, o Ditador que governou Portugal de 1932 a 1968. Esperaríamos algumas horas pelo trem para Viseu e minha mãe combinara visitar uma amiga que morava na cidade. Chegados à sua casa, a agradável surpresa: ela sabia que eu adorava cerejas e tinha no quintal uma enorme árvore, carregadinha de frutas maduras, que colocou à minha disposição. Foi uma farra que tornou a espera agradabilíssima. A viagem continuou e chegamos a Viseu, a cidade mais importante da Beira Alta. Para levar nossa enorme bagagem para o carro de aluguel que nos conduziria à aldeia, minha mãe contratou um carregador também enorme, de terno, boina e suéter, que nos acompanhou até o vagão cargueiro, junto com uma mulher gordinha, muito corada e bem baixinha (menos de metro e meio). Deparando com nossa malaria, o homenzarrão pegou o baú e o colocou nas costas... da baixinha - que gemeu mas aguentou firme. Enquanto isso, o “patrício” pegou as malas - bem mais leves - e foi em frente todo folgazão. Minha mãe não se conteve, deu-lhe uma tremenda descompostura e obrigou-o a carregar o baú. E ele obedeceu, apesar das tentativas de “sua escrava anã” para contornar a situação. Assim era Dona Maria do Céo ao ver alguma injustiça... Chegando à aldeia, fomos apresentados com muita festa a inúmeros parentes e hospedados na casa de Antonio Sampaio Coelho, primo-irmão de meu pai que, acabada a guerra, vendeu o Hotel de sua propriedade em Juiz de Fora e mudou-se com esposa e filhos para sua terra natal. Lá, construiu uma casa ampla, com eletricidade e água corrente, comodidades incomuns nas pobres aldeias portuguesas de então. A casa dos Coelho era tão confortável quanto a nossa residência na Visconde de Pirajá, em Ipanema. Começava assim meu encontro com minhas origens. Durante muitas gerações, meus antepassados paternos cultivaram a parreira, fabricaram o vinho e viveram de sua venda na pequena Oliveira de Barreiros, situada a 6 quilômetros de Viseu, na Região Vinícola Demarcada do Dão. Consta que já no século XIV eram tomadas medidas protetoras do vinho naquela área privilegiada. Em 1758, de acordo com o Inquérito Paroquial (de Lourosa), a velha aldeia de Oliveira de Barreiros contava com 70 fogos (lares). Foi em 1908, ainda sob regime monárquico, que o Estado Português constituiu aquelas terras do Dão como primeira Região Demarcada de vinhos de mesa do País. O Dão, por muitos anos, conseguiu ser a região por excelência dos vinhos não licorosos em Portugal, conhecidos pela “elegância, elevada capacidade de envelhecimento e versatilidade no acompanhamento de variadas criações gastronômicas”. Meu pai nasceu em 1898 e é claro que, demarcada a região, o vinho de nossa família e suas terras valorizaram-se, consolidando meu avô como pequeno proprietário remediado. A vinda de meu pai para o Brasil, em 1916, mais do que a razões econômicas, deveu-se à entrada de Portugal na I Guerra Mundial em 9 de Março daquele ano. O conflito luso-alemão já vinha sendo travado, há algum tempo, no sul de Angola e norte de Moçambique e a Declaração de Guerra à Alemanha foi mera formalidade. Meu pai completaria 18 anos em abril de 1916 e seu destino seriam as fatídicas trincheiras enlameadas do Somme, onde milhares de portugueses morreram.. . Fiquei admirado com a centenária casa em que meu pai nasceu, com paredes de pedra, adega, cubas de concreto, lagar e tonéis que me pareciam imensos. Além do vinho, meus antepassados plantavam e criavam o suficiente para garantir sua subsistência: fabricavam algum azeite, engordavam porcos, plantavam batatas e verduras, além de explorar a madeira de seus pinheiros. Conheci as terras da família que ainda então pertenciam a meu pai, particularmente nosso pinhal – tão bonito e com cheiro gostoso de resina ! - na curva da velha estrada. Estrada onde pude ver marchando e ouvir cantando, em certa manhã de domingo, os membros da Mocidade Portuguesa (que meu pai tanto odiava), com suas camisas verdes e calças castanhas – a cópia salazarista das Juventudes Hitlerista e de Mussolini. Ajudei na colheita do nosso pequeno campo de batatas, que devia ter apenas uns 600 metros quadrados e se situava em meio às terras de vários outros proprietários. Espantei-me com o fato de meu pai ter duas oliveiras em uma praça no centro da aldeia ! Para mim, brasileiro, acostumado à vastidão das terras e à exuberância meio largada da flora, aquele respeito a propriedades tão diminutas, ainda mais em local público, era algo inusitado. Foi esse sentimento arraigado de propriedade, principalmente nas regiões centrais e do norte de Portugal, que depois da Revolução dos Cravos (25 de abril de 1974) impediu o avanço do poder político dos comunistas no País, quando ousaram mexer nas terras daqueles minifúndios. Foram expulsos a enxadadas... O forte da aldeia era incontestavelmente o vinho, como ainda o é hoje, em pleno século XXI. Através do vinho, o nome da aldeia de meu pai já passou as fronteiras da região e as do País, com suas marcas próprias, registradas atualmente, como “Pedra Cancela” , “Vinha Paz” e “Vinha de Reis”. Mas a produção é pequena e não chega ao Brasil. Dos acontecimentos interessantes, naquela minha estada em Oliveira de Barreiros, lembro das demoradas mas alegres idas a Viseu em carro de bois, com os primos, ou de charrete, quando a viagem incluía minha mãe. E em Viseu, recordo das visitas à Sé, às Cavas (fortificações) de Viriato – o herói lusitano que combateu os romanos – e de uma refeição numa tasca, com minha mãe, consistindo de sardinhas, batatas cozidas, azeite e pão, comidos à volta de um imenso barril que servia de mesa. Lembro, também, que na aldeia fez muito frio e houve dias em que nem saí de casa. Afinal, da terra de meu pai viam-se as neves eternas da Serra da Estrela, o ponto mais alto e gelado do território português. (Carlos Pereira, em seu blog http://oliveiradebarreirosgrandesamigos.blogspot.com sobre a aldeia, conta-nos que em 2010 já nevou duas vezes por lá). Em algumas aventuras, me dei mal. Antoninho, meu primo que tinha uns 15 anos, sugeriu que fôssemos escondidos comer as cerejas das árvores de uma sua tia (minha prima). Pediu-me que, para não deixar vestígios da travessura, eu engolisse os caroços das frutas que comesse. Dito e feito e – é claro- uma brutal dor de barriga. Os caroços dele, o malandro guardara no bolso da calça...Mesmo vindo de Ipanema eu não era tão vivo assim nos meus 9 anos de idade. Aliás, levaram-me um dia à escola da aldeia, onde haviam estudado meu pai e meu primo querido Sylvio Simões de Figueiredo. Eu disse à professora que estava começando o terceiro ano primário e ela me fez algumas perguntas que eu não soube responder inteiramente. Fiquei meio encabulado. Afinal, eu pensava estar defendendo a honra nacional e fracassei tão fragorosamente quanto o fazem nossos alunos submetidos ao PISA, o teste que a OECD aplica a muitos milhares de alunos de meia centena de países e no qual os brasileiros sempre ficam nas últimas colocações. Mas como o Brasil sempre perde para Portugal no PISA, eu apenas estava antecipando nossas derrotas futuras. No final de nossa estada em Oliveira de Barreiros a temperatura aumentou e deu para ir tomar banho no Rio Dão, em um remanso perto de Nelas, onde havia uma “praia” – obviamente uma denominação meio risível sob o ponto de vista de um garoto que vinha das vastas areias de Ipanema. De qualquer forma, foi um dia divertido, passado com meus entusiasmados primos juiz-foranos (Antoninho, Laura, Cirene e Belmira). Afinal, o único mar que a turma da Manchester mineira conhecia até então era o Mar de Hespanha... Para mim, na época, as condições de vida naquela aldeia desmentiam a ideia de miséria que as zonas rurais de Portugal inspiravam. Talvez pela proximidade de Viseu; talvez pelo fato de o vinho ser um produto precioso de exportação, com bom preço em um momento no qual outros países europeus, envolvidos na guerra, viram declinar suas produções; ou ainda pelo impacto da chegada de Antonio Sampaio Coelho, que construiu uma enorme residência, comprou terras e injetou recursos financeiros acima do normal na aldeia.O fato é que gostei de Oliveira de Barreiros e a achei muito confortável. Mas estava na hora de ir para a terra de minha mãe e conhecer meus avós...


2. DESEMPREGO AUMENTA NAS METRÓPOLES - O IBGE divulgou sua Pesquisa Mensal de Emprego (PME) referente a janeiro de 2010. A taxa de desocupação subiu 0,4 % relativamente a dezembro de 2009, ocorrência natural em face da demissão dos trabalhadores temporários contratados para as festividades de fim de ano nas Capitais. Desse modo, a população desocupada (1,7 milhão) cresceu 6,0% na comparação com dezembro de 2009 (mais 95 mil pessoas) e a população ocupada (21,6 milhões) caiu , havendo menos 210 mil postos de trabalho em relação a dezembro de 2009. A PME cobre apenas as seis principais regiões metropolitanas do Brasil (Porto Alegre, São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Salvador e Recife) e só tem maior interesse para os respectivos Governos Estaduais. O IBGE poderia descontinuar essa pesquisa e usar os respectivos recursos financeiros para realizar levantamentos trimestrais sobre o mercado de trabalho cobrindo todo o País. Com esse tipo de informação, poder-se-ia definir políticas públicas nacionais de emprego mais fundamentadas e efetivas.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

ECONOMIA BRASILEIRA EM MAR DE ALMIRANTE

1.MARINHEIRO DE PRIMEIRA VIAGEM (I) – Na década dos 40, as viagens à Europa e Estados Unidos eram normalmente feitas em navios. Dirigível era alemão e só existira antes da guerra, nos anos 30. Avião era exceção, para um público reduzidíssimo. Encerrada a II Guerra Mundial, em 1945, minha mãe ficou na expectativa de uma oportunidade para viajar a Portugal e rever seus pais, ambos com mais de 70 anos de idade. Muitos outros filhos de imigrantes, como eu, fariam essa mesma viagem, para conhecer avós e as terras ancestrais. Foi o caso de José Carlos Santiago, da rede de voleibol em que jogo atualmente na Barra, e dos irmãos Eduardo e Isolda, donos do famoso CHAIKA. Todos filhos de portugueses e moradores de Ipanema, cujas recordações devem ser semelhantes às minhas. Em 1946, minha mãe e eu fomos para Portugal, no primeiro navio disponível: o Duque de Caxias, navio-transporte da Marinha de Guerra, que em agosto de 1945 viera de Nápoles (Itália) transportando os “pracinhas” da FEB de volta ao Brasil. Nossa viagem era atípica, em classe única. Os paquetes comerciais, de carreira, tinham geralmente três classes, com diferentes graus de comodidade, mas o Duque de Caxias era um navio de guerra, com outra configuração. Deixamos o porto do Rio de Janeiro a 28 de abril de 1946 e chegamos a Lisboa no dia 10 de maio à noite, aportando na manhã seguinte – cinzenta e muito fria, até para a primavera européia. Na travessia do Atlântico, vivi 13 dias de aventura, correndo por todos os cantos do barco, visitando maravilhado aquelas máquinas poderosas lá embaixo, descobrindo um mundo novo. Ainda mais que o navio tinha 2 canhões. e 12 metralhadoras, trazendo a realidade da guerra para perto dos meus olhos. Em 8 de maio, esse armamento entrou em ação e presenciamos um exercício de tiro em alto-mar, comemorando o primeiro aniversário do Dia da Vitória. Interessante também havia sido a passagem do Equador: festiva, marinheiros vestidos de Netuno, com tridente e tudo, dando trote e banhos de mangueira nos companheiros que passavam a linha imaginária pela primeira vez. Todos nós, calouros do Equador, recebemos diplomas atestando aquela nossa nova experiência marítima. No mais, lembro dos banhos diários com um sabonete especial, porque a água, dessalinizada pelos equipamentos de bordo, era muito “dura” (cheia de sais minerais) e só fazia espuma com aquele “tijolinho” escuro e inodoro. Aliás, “diziam” que fazia espuma...mas era uma batalha inglória. Lembrança marcante, também, era a despensa particular que minha mãe levava em sua bagagem, com vários pacotes de pão de forma, muitas latas de conserva (recordo-me da sardinha e da presuntada), bolos etc para alguma emergência, prevendo minha não adaptação à comida de bordo. À noite, eu costumava ir à sala dos radiotelegrafistas, onde ouvia a Hora do Brasil e depois as ondas-curtas de emissoras brasileiras. O navio “jogava” enormemente, a viagem não era absolutamente confortável e o número de pessoas enjoadas era descomunal, mas eu resisti bravamente às ondas do Atlântico. O espetáculo dos botos, em grande quantidade, nadando permanentemente na esteira deixada pelo navio, à espera de comida, era outra fonte de distração e encantamento. Tristes, no Duque de Caxias, só os momentos em que os alto-falantes nos avisavam que estávamos passando no ponto onde o navio x ou y, da nossa Marinha Mercante, havia sido atacado e afundado por algum submarino alemão. Chegando a Lisboa, a primeira recordação que me ficou foi da confusão com a nossa bagagem. Naquela época, nos navios, viajava-se com um enorme baú, pesadíssimo e nada portátil, que levava o grosso das roupas e ia despachado no porão do barco. A esse verdadeiro “container” em miniatura somavam-se algumas malas menores (mas não tanto), que no caso de minha mãe continham todos os presentes a dar para a família (enorme) e bons amigos ausentes por tanto tempo. Até desembaraçar tudo na Alfândega e aninhar aquela verdadeira “mudança” no carro de aluguel (assim chamavam o táxi), foi uma eternidade. Café, goiabada, açucar e cigarros, escassos e caros em Portugal, eram os itens preferenciais dentre os presentes, além das roupas brasileiras, naturalmente. Do porto de Lisboa, fomos para o Largo do Rossio, onde ficava a pensão onde nos hospedamos, em localização muito conveniente pois em outro andar do mesmo prédio morava uma prima de minha mãe. Nossa prima, casada com o Dr. Antonio, funcionário graduado do Banco de Portugal, do qual ganhei minha primeira coleção de selos, foi nossa companhia inseparável em Lisboa. O prédio onde ficamos ainda existe e é um daqueles magníficos e lindos exemplos da arquitetura portuguesa, imponentes e totalmente restaurados, na praça onde a estátua de D. Pedro IV de Portugal – o nosso D. Pedro I – reina absoluta. Em 1946, ainda havia racionamento de comida em Portugal, pão e carne bovina sendo sujeitos a restrições, mas nossa pensão, mesmo assim, seguia o ritual do longo cardápio europeu: às refeições, invariavelmente, serviam uma sopa, um primeiro prato de peixe (ainda que fosse o modesto carapau, sardinha de terceira categoria), um segundo prato de carne (geralmente branca ou carne de porco) e a sobremesa (fruta da estação ou doce). A cada refeição só se comia um pão francês, que eles chamavam de “papo-seco”. Café...nem pensar...Coisa só de brasileiro, maior produtor mundial da preciosa rubiácea. Mas não faltavam o vinho, o azeite e o vinagre. O que eu gostava mesmo era dos pacotes de meio quilo de cerejas e meio quilo de nêsperas (que ainda não existiam no Brasil) que minha mãe comprava religiosamente, todas as manhãs, ao sairmos para visitar a cidade. Lisboa ainda exibia grandes e luxuosas confeitarias - onde costumavam sentar-se os membros das realezas destronadas e decaídas da Europa destroçada pela guerra. Ponto de parada obrigatório era também um dos muitos quiosques de ginjinha (licor de uma espécie de cereja brava), no Rossio ou na Praça da Figueira, para um cálice da bebida com uma frutinha dentro. No mais, era explorar o desconhecido e me lembro da ida ao imponente Mosteiro dos Jerônimos, onde as mulheres só eram admitidas com um véu negro cobrindo a cabeça (minha mãe teve que comprar um à entrada). Também me recordo da Torre de Belém, onde minha mãe explicou orgulhosa que dali saíram os barcos que descobriram o Brasil. Inesquecível e jamais repetida ao longo de minha vida, foi a tarde no Campo Pequeno, para ver uma tourada, em um domingo ensolarado, com muita música e emoção, aquelas roupas coloridas dos toureiros, cavaleiros e bandarilheiros – uma festa para os olhos. Com certa reverência, minha mãe, ex-camponesa pobre, anunciou um dia que iríamos ao Estoril, local chiquérrimo, ainda então habitado por muitos ex-reis e rainhas, imperadores e imperatrizes, que vagavam suas lembranças e roupas da “belle époque” nas mesas do célebre Cassino – onde não pude entrar – e no luxuoso Hotel anexo. Realmente o Estoril era lindo, com jardins irreais de tão bem projetados e tratados. Algumas pessoas que lá vi pareciam saídas de um filme do início do século e de certa forma o eram, ao viver na esperança de um tempo que jamais voltaria...Outra excursão interessante foi à Costa da Caparica, do outro lado do Tejo, próxima à atual Ponte 25 de Abril, onde a prima de minha mãe tinha uma casa de férias. Pegamos uma barca - tipo Rio-Niterói - e chegamos a uma praia de areias alvíssimas, na qual ficava a casa da prima. No mais, eram as andanças pela Avenida da Liberdade, as idas aos ourives da Rua da Prata, as subidas no Elevador da Santa Justa, ligando a Cidade Baixa à Cidade Alta. Depois de alguns dias em Lisboa fomos de trem para Oliveira de Barreiros, em Viseu, terra do meu pai. Bem, mas essa é outra história, para outro blog, de modo a não cansar os pacientes leitores com minhas aventuras infantis.


2. EMPREGO E PIB PROMISSORES EM 2010 - O país registrou em janeiro de 2010 a geração de 181.419 empregos com carteira assinada. A indústria de transformação teve resultado excelente, com a criação de 68.920 empregos. O setor de serviços com 57.889 vagas e a construção civil com 54.330 postos formais criados, completaram um quadro muito positivo, que dá esperanças de um ano muito bom para o mercado de trabalho. A performance da Indústria – motor do desenvolvimento econômico – reforça, por outro lado, as expectativas otimistas de crescimento geral da economia brasileira, cujo PIB vai expandir-se acima de 5%. Nesse patamar, fará crescer a renda per capita da população, melhorando sua qualidade de vida.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

ELITE EM RUÍNAS NO PARQUE DAS ÁGUAS

ELITE NO PARQUE DAS ÁGUAS – Antigamente, as famílias cariocas da classe média tinham uma receita infalível para sua saúde física e mental. Começavam o ano nas estações de águas. Eram outros tempos, mas as zonas urbanas de maior densidade populacional já causavam demasiado estresse aos seus habitantes. Aqueles 21 dias de lazer regado a muita água mineral, em clima ideal para o repouso e a reposição de forças, eram uma solução admirável. Os cariocas preferiam Caxambu, São Lourenço, Cambuquira e Lambari, inclusive pela facilidade de acesso, embora aquele trem com baldeação em Cruzeiro não fosse o passeio dos meus sonhos. Mas depois vieram as estradas asfaltadas, meus pais compraram carro e tudo ficou mais fácil. Mas até de avião DC-3 fomos lá, saltando em Campanha e atingindo Cambuquira de táxi. Sim, minha família pertencia á “turma” de Cambuquira. Era uma espécie de religião. As famílias tinham suas irremovíveis preferências e todos os anos iam para o mesmo hotel, na mesma cidade, sabendo que iam encontrar os mesmos companheiros de caminhadas pelo parque, de roda de baralho e de cassino – pois mesmo depois de proibido, em 1946, o jogo escondido era usual nesses locais de veraneio. As famílias antigas gostavam da rotina e tinham razão. Rotina, ao menos para os idosos, quer dizer estar com boa saúde, com a vida financeira regulada, sem problemas na família – e isso é muito bom quando se é velho ! Nossa cidade adotiva de férias tinha ótimos hotéis: Vitória, Empreza, Globo, Silva, Matos, Elite. Éramos da “clientela” do Seu Jari, do Hotel Elite, que ficava na rua principal e cujos fundos davam para o Parque das Águas... Foi gozado nos primeiros anos, pois meu pai levava para Cambuquira seu inevitável vinho tinto do Dão, vindo diretamente de sua Oliveira de Barreiros em enormes pipas. Bebia água mineral também, mas o vinho ao almoço e ao jantar era um hábito ancestral. As mesas de refeições eram fixas, por família, e a presença daquela garrafa destoante, com líquido bordô, mesmo naquele salão enorme, não passava despercebida. Alguns paravam para ver se era verdade... Com o passar dos anos até o vinho do meu pai virou rotina. As caminhadas pela mata do parque; as excursões a cavalo pelas fazendas das redondezas de Cambuquira ou para ir à longínqua Fonte do Marimbeiro; o pingue-pongue e a piscina diária; as “paqueradas” em grupo até a porta dos outros hotéis para ver caras novas; o engarrafamento das águas exportadas do Parque para os demais Estados - tudo isso era nossa fonte de diversão. Para nossos pais, as fontes que mais contavam eram a magnesiana, a alcalina, a sulfurosa, a ferruginosa etc. Podia ser rotina - mas era maravilhoso. Quando fui entrando na adolescência, passei também a jogar voleibol na quadra do parque. A mesma onde as principais equipes do Brasil disputavam os famosos Torneios de Cambuquira. Aliás, parece incrível, mas nos 20 anos em que joguei no voleibol oficial pelo Fluminense, convidado certo, jamais disputei esse Torneio que todos atletas adoravam. Comida boa e farta, farra, seresta, ótimas companhias - nada faltava no Torneio. Às vezes tinha briga feia, por causa das rivalidades provincianas. Bem, mas isso é assunto para o blog do Prof. Roberto Pimentel em http://procrie.com.br/ O fato é que todos os “veranistas” – era assim que os nativos nos chamavam - voltavam daquelas férias bem dispostos e prontos para enfrentar o ano que começava. As fotos mais antigas que tenho de nossas viagens são de 1940 (chegando ao Hotel no meu “carro de bodinho”) e as mais recentes de 1952 (esperando o chofer de meus pais junto ao nosso carro, para passeio com amigos veranistas). Posteriormente, a estação de águas caiu em desuso, Cambuquira declinou, todos os hotés que citei fecharam. Infelizmente, conforme vi e li no blog http://cambuka.blogspot.com/ o belo prédio centenário do Hotel Elite, em estilo romano, está em ruínas, desmoronando, principalmente na parte dos fundos. E assim se perde a história de uma época, neste País sem memória...Mas para mim aquelas muitas férias são inesquecíveis !
2. NOVA REITORA FOI SUPERVISORA DO MOBRAL - A Prof.ª Ms. Maria Célia Pressinatto, Supervisora do MOBRAL em Limeira, onde fez um trabalho primoroso, é a nova Reitora do Centro Universitário Barão de Mauá, de Ribeirão Preto, São Paulo. Dela recebi o seguinte email: “Gosto muito de ler seu blog e perceber o quanto você é crítico em relação aos acontecimentos do país. Dia 29/01 tomei posse como Reitora do Centro Universitário Barão de Mauá e como sempre contei com o seu apoio, estou comunicando. No site do Centro Universitário estão as fotos da posse em http://www.baraodemaua.br/ Foi uma solenidade bonita e a minha emoção foi muito grande e queria compartilhar com você. No meu discurso disse que fiz parte da implantação do MOBRAL, trabalho que sempre me orgulhou muito.” Célia, sempre leal à instituição em que trabalhamos e aos princípios que norteavam as atividades do MOBRAL, merece esse destaque.
3.SÃO PAULO TEM SALVAÇÃO - Em janeiro e fevereiro de 1910, PARIS sofreu a maior inundação de sua história. A estação de ORSAY (atual Museu d`Orsay) ficou com mais de metro e meio de água; em grande parte do Centro foram colocadas passarelas para possibilitar o deslocamento de pedestres; em muitas áreas da Cidade o acesso só era possível por barco; a Catedral de Notre Dame e a Torre Eiffel ficaram isoladas; o Hôtel de Ville, ilhado por água acumulada no fosso que dava acesso aos porões; o Canal de San Martin desapareceu e a eclusa de La Monnaie, então reguladora do nível do Sena, foi ultrapassada pelas águas do rio....Enfim, um verdadeiro caos. Veja o que aconteceu, nas fotos do site http://inondation1910.paris.fr/ Cem anos depois, a Cidade-Luz continua sendo a mais linda do mundo, apesar de ter passado também pelas duas guerras mundiais. São Paulo, a mais rica cidade brasileira, tem solução e há propostas ousadas para evitar suas enchentes. Entre elas, despejar suas águas excedentes no Atlântico, através de uma hidrelétrica que aproveitaria a queda entre o planalto e a Baixada Santista. É claro que as soluções demandarão muito empenho, por vários anos. É provável que São Paulo não se torne a mais linda cidade do mundo nem em 2110, mas um trabalho sério e competente iniciado imediatamente impedirá que continue essa imensa ilha de concreto, cercada de águas fétidas por todos os lados.
4.RECEITA ABOLE PAPEL – Terrível o anúncio, da Receita Federal, de que no próximo ano não mais serão aceitas declarações de imposto de renda em formulário de papel. Os idosos que as apresentam desse modo terão que pagar um salário-mínimo, subtraído de suas parcas aposentadorias, para que alguém as faça em meio eletrônico. Os velhinhos já estão estressados desde agora... e passando mal...

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

CARNAVAL COM MUITA ENERGIA


1.CARNAVAL DA MINHA INFÂNCIA – Minha lembrança mais antiga do Carnaval é de meados da década dos 40. Na manhã calorenta, “bloco de sujo” desfilando na Rua Visconde de Pirajá e eu na frente, de short e cara pintada, empunhando uma caneca de metal, para arrecadar as moedas que o público generoso dava à garotada, premiando o batuque cadenciado e a animação das marchinhas cantadas a plenos pulmões. Menor do grupo, eu não era bom de tamborim ou pandeiro - cuíca ou bumbo, nem pensar ! - daí a dura missão de arrecadar os tostões, para a qual também jamais levei jeito...Cada turma tinha o seu bloco e ninguém queria ficar para trás. O meu era da Visconde, do trecho entre Montenegro e Farme de Amoedo. Nos dias de Carnaval, Ipanema ficava repleta de foliões individuais, em duplas ou pequenos grupos, vestidos de mulher, neném (com fraldas sujas de abacate), índio, tirolês, legionário, palhaço e pirata. As foliãs, em menor número, iam de odalisca, tirolesa, índia, bailarina e colombina. Mas o interessante mesmo era deparar com o inesperado. A Rainha de Sabá, negra e dourada, esplendorosa, na Prudente de Moraes, fazendo contraponto com a “nêga maluca”, em farrapos, da Teixeira de Melo; o deputado baiano, de microfone em punho, discursando na Praça General Osório e o próprio Getúlio Vargas, de bombachas e chimarrão, desfilando solene na Barão da Torre e acenando para o povo. Banho à fantasia não era coisa de Ipanema e ficava mais no Flamengo ou Copacabana. À tarde aconteciam os bailes infantis, na Praça do Lido (Copacabana) e no Helênico (na Praça General Osório), que para os adolescentes da Zona Sul davam lugar ao baile infanto-juvenil do Botafogo – o melhor de todos – ou os do Fluminense ou Monte Líbano – este, ainda na sede de Botafogo, antes da mudança para a Lagoa. Só bem mais tarde a turma da Miguel Lemos passou a ter seu criativo baile de rua em Copacabana. Na ida e na volta para os bailes, nosso Carnaval subia no bonde ( no 12 ou no 13, mas este preferentemente - que ia pelo Túnel Novo). Tinha batucada, cantoria e guerra de confetes com jatos de lança-perfume contra os passsageiros dos bondes que vinham em direção contrária. Nos dias sem baile infantil, a viagem de bonde era mais longa, até o Centro da Cidade, onde a animação não falhava. Lá, ainda havia um resíduo do corso, desfile de foliões e foliãs com fantasias de luxo, em carros conversíveis. Mas a predominância já era dos blocos organizados, bem fantasiados, com baterias excelentes, desembocando na Cinelândia e adjacências. O Cordão do Bola Preta já era sucesso absoluto. À noite, crianças como eu eram levadas pelos pais zelosos ao espetáculo supremo, dado pelas Grandes Sociedades: Pierrôs da Caverna, Fenianos, Democráticos, Tenentes do Diabo (meu pai foi sócio), com carros enormes e jovens bonitas, fantasiadas com pouca roupa, cantando e jogando beijos à assistência enlouquecida na Avenida.. O Carnaval de rua ainda predominava, mas confete, serpentina e lança-perfume já começavam a migrar para os salões e lá se fechariam por muitos anos... Anos mais tristes...
2. O EXEMPLO DE PORTUGAL – Carlos Roberto dos Santos Moura, meu colega de Mello e Souza e Escola de Engenharia, mandou-me um ótimo artigo sobre Energia, que partilho com meus leitores. Eis o texto: “No século XV, eram os portugueses exímios fabricantes de caravelas. Os seus engenheiros navais, especialistas em construções de madeira, ao longo dos anos, foram aperfeiçoando as peças. Tira um pouco daqui, apara dali, acabaram transformando a sua indústria naval em fábricas de tamancos. Continuaram, porém, o processo de aprimoramento das peças de madeira: tira um pouco dali, apara dali, transformaram a indústria tamanqueira em fábricas de palitos, que é a única coisa que Portugal produz, atualmente.” Embora descendente de portugueses, meu pai, como bom brasileiro, gostava de contar piadas ironizando nossos colonizadores, como a acima transcrita. Entretanto, nunca acreditou na alardeada burrice lusitana. Da mesma forma, sempre admirei a competência dos colegas engenheiros lusos. Assim, logo que me formei na Escola Nacional de Engenharia, no Rio, em dezembro de 1960, tratei de embarcar para Lisboa, em 3 de janeiro de 1961, rumo ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil, o famoso LNEC. Tive, então, a oportunidade de conhecer um pouco da tecnologia portuguesa em barragens, especialmente de concreto, e na engenharia hidráulica, em geral. Não por acaso, é português o projeto da barragem em abóboda delgada de concreto da Usina de Funil, no Rio Paraíba do Sul, perto de Resende (RJ). Também o alargamento da praia de Copacabana, realizado nos anos 60 (Governo Lacerda), contou com a supervisão do estimado Professor Lajinha, do LNEC. Essas antigas lembranças vieram-me à mente, quando tomei conhecimento da notável expansão da geração de energia eólica ocorrida em Portugal, após 2008. Hoje, 36% da eletricidade consumida é proveniente dos ventos ou diretamente do sol. Assim, houve significativa redução na dependência da importação de combustíveis fósseis, com evidentes vantagens econômicas e ambientais. Atualmente, são europeus os países líderes na participação eólica em suas matrizes energéticas: Dinamarca, com 20%; Portugal, 15%; e Espanha, alcançando pouco mais de 14%. O segundo lugar lusitano foi obtido em 2009, graças a um incremento de 31,6% em relação a 2008. Uma das estratégias utilizadas para o aumento da geração eólica foi a promoção do uso privado, incentivando os pequenos aerogeradores. A situação brasileira é bastante diferente: temos mais de 45% da energia (como um todo) oriunda de fontes renováveis. Na área de eletricidade, uma posição invejável, com a predominância absoluta da energia hidráulica. Porém, são enormes os desafios. Não há desenvolvimento sem aumento do consumo de energia. Se a demanda por eletricidade crescer mais rapidamente que a capacidade de ofertar energia ocorrerá um desequilíbrio que precisa ser evitado. O apagão de 2001 mostrou-nos a necessidade imperiosa da diversificação das fontes energéticas. É de fundamental importância o investimento em diferentes fontes de geração para que o Brasil possa se desenvolver de forma sustentável. Em termos mundiais, o uso de petróleo continua a crescer, em decorrência do padrão de consumo predominante nos Estados Unidos e da explosão desenvolvimentista na China e na Índia. O Brasil ocupa posição de liderança na tecnologia de fabricação do etanol e na sua produção industrial. Graças aos avanços tecnológicos e à evolução do processo produtivo, o álcool tornou-se competitivo. Embora sejam grandes as dificuldades para o licenciamento ambiental, a energia hidrelétrica ainda é primordial no sistema elétrico brasileiro. Assim, temos o desafio de construir Belo Monte e as usinas do Rio Madeira – Jirau e Santo Antônio, e mais outros aproveitamentos na Amazônia. Além disso, há a necessidade de investimento em linhas de transmissão, como o linhão Tucuruí – Manaus e a LT Porto Velho – Manaus, em corrente contínua. Apesar de 70% do seu território não ter sido prospectado, o Brasil possui uma reserva de 310.000 toneladas de urânio (sexta maior do mundo). Por isso, a construção da usina nuclear Angra 3 e de outra no nordeste é altamente recomendável, com o objetivo de diversificar a oferta de energia. Com referência à energia complementar, também podemos vencer o desafio de incrementar o uso de fontes renováveis, pois temos as dádivas do sol tropical, ventos abundantes e terras férteis, que favorecem o uso do álcool, bagaço de cana, carvão vegetal e até lenha, de forma sustentável. Certamente teremos um aumento da utilização da energia solar de forma direta para aquecimento de água. Mas, é a energia eólica que se apresenta com um grande potencial de crescimento, desde que vencido o desafio de reduzir os custos das usinas, como ocorreu no setor sucroalcooleiro. No caso da geração eólica, os equipamentos ainda são muito caros, a que dificulta sua competitividade. No entanto, investimentos para incentivar o uso maior dos ventos na nossa matriz energética podem vir a ser rentáveis futuramente, muito embora a participação maior ou menor de uma fonte não seja apenas um ato de vontade política. No momento presente, o exemplo de Portugal merece ser estudado, pois mais uma vez a experiência dos portugueses pode vir a ser útil para o Brasil.