quarta-feira, 30 de junho de 2010

ENVELHECIMENTO ATIVO COM MAIS EMPREGOS PARA IDOSOS

1.GERAÇÃO DE EMPREGOS EM MAIO BATE RECORDE - O mercado de trabalho formal brasileiro absorveu mais 298.041 trabalhadores em maio e já registra a criação de 1.260.368 empregos em 2010. São dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), coletados e processados pelo Ministério do Trabalho, após serem enviados pelas empresas sediadas no País. Entre os setores que mais empregaram em maio estão Serviços (86.104), Agricultura (62.247), Indústria de Transformação (62.220), Comércio (43.465) e Construção Civil (39.082). Em termos geográficos, houve expansão do emprego em 25 das 27 Unidades da Federação. Tudo indica que em 2010 haverá oportunidades de trabalho em número superior ao de todos os jovens que chegam à idade ativa – cerca de 1,7 milhão. O que significa que ainda vamos resgatar do desemprego alguns milhares de trabalhadores atualmente desocupados.
2.JABULANI – Finalmente a FIFA emitiu uma nota dando conta que a conveniência do lançamento dessa nova bola - que já está sendo usada na COPA DO MUNDO – deve ser discutida. Só que agora é tarde, a bola prejudicou a performance técnica de muitos jogadores nos primeiros jogos e neles o espetáculo perdeu brilho. Neste momento os jogadores já se adaptaram e os chutes estão melhorando. Insanável incompetência da FIFA. Ponto para o marketing da fabricante da bola que alcançou uma notoriedade inédita.
3. TERCEIRA IDADE DISCRIMINADA – Há anos me interesso pelos problemas da população da terceira idade. Estou ansioso para conhecer os resultados do Censo de 2010, para saber se os problemas dos idosos no Estado do Rio de Janeiro, entrevistos em 2000, foram amenizados ou não. A exemplo do que já ocorrera no Censo de 1991, dentre os Estados, era o Rio de Janeiro que apresentava maior proporção de idosos em 2000: a população residente de 60 anos e mais de idade, com 1.540.754 componentes, correspondia a 10,7% do total (em 1991 fora 9,2%). Do total de idosos do Rio de Janeiro, em 2000, 475 mil tinham de 60 a 64 anos; 389 mil de 65 a 69 anos; 302 mil de 70 a 74 e 374 mil tinham 75 ou mais anos de idade. Nossa população idosa é predominantemente feminina. No Brasil, em 2000, a mulher vivia 8 anos mais do que os homens e 55% dos idosos eram mulheres e 45% homens. No Estado do Rio de Janeiro a feminização se agudiza: tínhamos 41,5% de homens (638.860) contra 58,5% de mulheres (901.894). Dentre os Municípios das Capitais, também a Cidade do Rio de Janeiro, com 751.637 idosos, tinha 12,8% da população total com 60 e mais anos de idade - o perfil mais envelhecido no País em 2000 e que já se aproximava do que ocorria nas nações desenvolvidas. Havia então 294 mil homens e 458 mil mulheres nessa faixa etária (e portanto 61% eram do sexo feminino). Quando se observava em 2000 a população idosa fluminense, verificava-se sua condição predominantemente urbana, seguindo os padrões da população nacional: 11.825.829 citadinos contra 2.710.200 rurícolas, ou 81,3% contra 18,7%. Todavia, ao desagregar esses dados, verificar-se-á que há proporcionalmente mais mulheres idosas nas zonas urbanas e mais homens velhos nas zonas rurais – neste último caso porque há maior longevidade no trabalho masculino no campo. O que também chamou a atenção no Censo de 2000, relativamente aos idosos, foi seu papel familiar: 62,4% dos idosos eram responsáveis por domicílios, contra 60,4% observados em 1991. Os cônjuges desses responsáveis representavam 22,0% dos idosos, o que mostra que 84,4% das pessoas da terceira idade, em 2000, tinham um papel de destaque na nova família brasileira. Assim, 8.964.850 lares tinham um idoso como responsável, o que era muito expressivo (20%) no conjunto de 44.795.101 domicílios existentes no País. A feminização está progredindo e 37,6% (equivalentes a 3.370.503) dos idosos responsáveis já eram mulheres em 2000, contra 31,9% em 1991. A idade média dos responsáveis estava próxima dos 70 anos (70,2 anos para a mulher e 68,9 quando homem). Dos domicílios sob a responsabilidade de idosos merecem atenção os unipessoais – com apenas um morador – que eram 1.603.883 em 2000, dois terços dos quais ocupados por mulheres. Aliás, analisado o problema da solidão como um todo, o Estado do Rio de Janeiro lidera na proporção de domicílios unipessoais, com 11,2% do total. Outro aspecto revelado pelo Censo é que 22,3% dos aposentados brasileiros trabalham: 30,2% dos homens e 14,1% das mulheres. O fenômeno era sobretudo intenso nas zonas rurais, em que 31,2% dos aposentados trabalhavam, enquanto nas cidades o percentual era de 20,2%. Quanto aos rendimentos, os dados revelaram uma certa melhora nos rendimentos médios percebidos pelos responsáveis idosos no período intercensitário, principalmente nas zonas rurais do PaÌs. Contudo, de uma forma geral, a distribuição dos responsáveis idosos por classes de rendimento ainda se encontra extremamente concentrada nos estratos de renda inferiores. O idoso leva certas desvantagens, sendo seu nível educacional o principal deles. Em 2000 a escolaridade dos idosos estava abaixo da média, principalmente entre as mulheres. Considerando apenas os idosos responsáveis por domicílios, a média de anos de estudo das pessoas com 60 e mais anos de idade era 3,4, sendo a dos homens 3,5 anos e a das mulheres 3,1. Nesse particular o Estado do Rio de Janeiro tinha a maior média nacional, de 5,4 anos, superado apenas pelo Distrito Federal (6,0 anos). Nossa Capital tinha a terceira melhor média em anos de estudo (6,9), superada ligeiramente por Porto Alegre (7,1) e Florianópolis (7,2). Por outro lado, esses responsáveis também apresentaram uma ligeira melhora no aspecto educacional, aumentando a proporção de idosos alfabetizados entre 1991 e 2000, embora a média de anos de estudo deste segmento ainda seja extremamente baixa. A tese de que as campanhas de alfabetização devam ignorar os idosos é destituída de razão. Muito ao contrário, deve-se investir no aumento da escolaridade dos mais velhos além de se criarem mecanismos de certificação de suas habilidades e conhecimentos obtidos pela própria vivência prolongada, o que é totalmente compatível com a filosofia mais moderna de educação continuada. Mesmo porque os dados aqui alinhados revelam que os idosos necessitam e querem dispor de melhores meios econômicos e financeiros para se desincumbirem de suas obrigações familiares. Consequentemente, a dimensão laboral ganha realce e o idoso tem que ser olhado sob esse novo prisma das oportunidades ocupacionais. A política de envelhecimento ativo deve integrar o ideário obrigatório de todos os nossos Governos !

quinta-feira, 17 de junho de 2010

JABULANI VOLÁTIL COMO O PERFUME DAS BRASILEIRAS CAMPEÃS

1.MEU FRACO POR PERFUMES... – Gostei de conhecer o site de Gloria Taveira sobre Aromaterapia (http://www.spagloriataveira.com.br ). Desde a juventude tenho um “fraco” por perfumes. Comecei na década dos 50, com o “Avant la Fête” argentino e quando fui jogar voleibol pelo Fluminense em Buenos Aires, em 1957, passei a usar o Lancaster. Muito melhor, descoberto nas andanças com Átila, Naga, Parker, Ronaldo, Mário, Jonjoca e Careca ao longo da Calle Florida. Pelo Chambley, também portenho, nunca passei - não fazia meu tipo, achava horroroso...Em 1959 fui a Paris, também jogando voleibol, disputando a Petite Coupe du Monde pela Seleção Brasileira e visitei incontáveis vezes a Rue Rivoli, então a Meca dos Perfumes, para conhecer as novidades. Lá, conheci uma Colônia que usei durante muitos anos: verde, levemente cítrica,suave, foi ótima enquanto durou. Voltei muitas vezes a Paris, por força de meus trabalhos com a UNESCO e a compra obrigatória era ela, a Colônia Fougère Royale Pour Homme. Mas numa dessas viagens veio a notícia trágica: “a minha Colônia” não era mais fabricada... Desde então, transito indeciso por muitas marcas, sem me fixar em qualquer delas: CK, Hugo Boss, Kenzo, Polo, Ermenegildo Zegna... As visitas à SEPHORA continuam dando grande prazer, mas falta algo... Queria mesmo, de volta, o Fougère Royale, de preferência junto com a minha mocidade... Numa visita à Riviera, já nos anos 90, fui à Cidade de Grasse, onde crescem as lavandas e outras flores notáveis, lá mesmo transformadas em essências maravilhosas. Mas a minha... nem lá existia mais. A “fougère”, criada em 1882 por Paul Parquet, foi o primeiro perfume contendo uma substância química sintética que os consumidores aceitaram bem – era a cumarina, achada na Natureza na lavanda, trevo e feijão Tonka. E Grasse foi minha derradeira tentativa...
2.AROMATERAPIA - Gostei do que o site da Glória conta: “A história da aromaterapia, dos homens pré-históricos aos dias de hoje, passa pelos egípcios, gregos e romanos. O uso de substâncias aromáticas, em rituais, por sacerdotes, em forma de incenso e em mumificações, era uma prática freqüente no antigo Egito. Na Grécia Antiga acreditavam que os perfumes eram formulados pelos deuses, e os utilizavam em remédios aromáticos e cosméticos. Roma, por sua vez, tornou-se a Capital mundial dos banhos: os romanos utilizavam os óleos aromáticos em massagens ou como pós-banho. O conceito moderno e atual da aromaterapia, definida como “uma forma holística de cura”, foi assim proposto, no final da década de vinte, pelo químico francês René M. Gatefossé, após queimar as mãos no laboratório da família e mergulhá-las no líquido mais próximo – uma tigela com óleo essencial de lavanda. Acidentalmente, ele descobriu as propriedades dermatológicas e medicinais dos óleos essenciais, ao constatar que a queimadura sarou e não deixou cicatrizes. Impressionado com o resultado, Gattefossé começou a pesquisar as propriedades dos óleos essenciais e em 1928 lançou seu livro intitulado “Aromatherapie”. (Silva, 1988). Durante a segunda Guerra Mundial, Jean Valnet, médico francês, empregou os óleos essenciais em feridos, o que lhe trouxe reconhecimento nas curas holísticas. No pós-guerra continuou suas pesquisas e em 1964 seu livro foi publicado. (Silva, 1988). A Marguerite Maury, bioquímica francesa, foi creditado o uso moderno da aromaterapia. Ela concluiu, após pesquisas, que basta o uso externo em massagens com sinergia individualizada para se obter os efeitos desejados. (Silva, 1988). Hoje, a aromaterapia é praticada mundialmente e com critérios científicos: os aromaterapeutas usam os óleos essenciais para promover beleza e saúde do corpo, da mente e da alma.” Gostei !
3. BRASILEIRAS CAMPEÃS MUNDIAIS NO MILITAR DE VÔLEI FEMININO - A hegemonia brasileira no voleibol volta a ser confirmada: nossa Seleção Militar Feminina conquistou o título do 31º Campeonato Mundial Militar, disputado na Base dos Fuzileiros Navais de Cherry Point, na Carolina do Norte, Estados Unidos da América. A final foi contra a Alemanha e o Brasil venceu por 3 x 0. Foi a primeira participação de uma equipe militar brasileira feminina no Campeonato Mundial. As brasileiras deram show: a 3º Sgt Fernanda Garay foi eleita a melhor jogadora da competição; a 3º Sgt Juciely, o melhor bloqueio; e a 3º Sgt Ana Cristina, o melhor saque. A capitã da equipe brasileira, 3º Sgt Camilla Adão recebeu o troféu que ficará no Brasil até os Jogos Mundiais Militares do Rio de Janeiro, em 2011.
4.A BOLA TUDO PODE – Insisto na importância da bola e de suas características para a performance esportiva de alto nível. A bola tudo pode. Se alterássemos, por exemplo, a confecção da bola de voleibol, desenvolvendo tecnologia que permitisse que ela não tivesse gomos, mas mantivesse suas demais características de maneabilidade e durabilidade, as cortadas perderiam velocidade e o jogo (principalmente o masculino) seria mais interessante, porque o ponto custaria mais a acontecer. E quem nos ensina isso são os estudos científicos sobre turbulência. Uma bola inteiriça, sem gomos, teria maior arrasto, deslocar-se-ia com menor velocidade, facilitaria as defesas em geral. Agora, se colocarem ranhuras, como as da pele dos tubarões (que deram origem aos maiôs inteiriços de natação, agora proibidos), a bola passará a “voar”, em alta velocidade. Foi o que fizeram com a Jabulani. Um exemplo bem estudado e conhecido para todos entenderem: o desenho da bola de golfe, cheia de “covinhas”, visa maximizar o seu deslocamento após a tacada. A tacada com a bola oficial de golfe, com suas reentrâncias, atinge até 250 metros. Calcula-se que a mesma tacada em uma bola de golfe do mesmo material, mas sem covinhas ( “dimples” em inglês), não passaria dos 100 metros. A Jabulani, a grande “estrela” da COPA até agora, é um “tubarão, disfarçado de peixe voador” e quando bate no chão sobe a alturas inimaginadas, enganando os jogadores e engolindo a reputação dos goleiros.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

PIB SOBE MAIS QUE JABULANI

1.PIB DA RECUPERAÇÃO – Segundo dados do IBGE, a economia brasileira, de janeiro a março deste ano, cresceu 2,7% na comparação com o quarto trimestre de 2009. Em relação ao primeiro trimestre do ano passado, quando a crise ainda era aguda, a alta do PIB foi de 9%. O desempenho da indústria (crescimento de 4,2%) foi excelente, mas a Agricultura (com 2,7%) e os Serviços (com 1,9%) também mostram uma economia pujante, recuperada e que vai crescer no mínimo 6% este ano. Vamos empregar este ano, no mercado de trabalho formal, cerca de 1,8 milhão de pessoas. Agora é preciso segurar a euforia da economia e domar a inflação, aumentando os juros, para termos um ano muito bom.
2. JABULANI - posso entender perfeitamente porque os jogadores da Seleção Brasileira de Futebol, que disputa a COPA DO MUNDO da África do Sul, são os que mais reclamam da bola oficial do certame. Para atletas exponenciais, de um esporte de competição em alto nível, a bola do jogo tem muitos mistérios já desvendados com grande esforço e que, devidamente aproveitados, levam à vitória. Uma alteração importante em suas características – como parece ter ocorrido agora - pode anular anos de treinamento e tirar-lhes uma arma tática preciosa. Os brasileiros são os futebolistas de técnica individual mais refinada. Vai daí, são os que mais têm a perder com a mudança... Seus chutes têm muito mais mistério do que se imagina. Quando atleta, minha “intimidade” com a bola decorreu da curiosidade em relação ao saque. A observação do fabuloso e temido serviço executado pelas jogadoras japonesas no início da década dos 60 chamou-me atenção. Bola e saque, com aquela precisão nipônica, para um engenheiro como eu, sugeria aplicações da Física, sobretudo da Dinâmica, com o uso dos conceitos de quantidade de movimento, velocidade e turbulência entre outros. Decidido a melhorar minha performance, estudei o saque tático mais eficaz para o voleibol daquele tempo e que eu poderia executar com o mínimo de erros. Não era um saque para fazer ponto e não era violento. Objetivava dificultar o passe e consequentemente limitar as variações de jogada que o levantador adversário poderia executar. Depois de anos de observação, estudos e exercícios de “ensaio e erro” concluí que deveria executar um saque em que a bola se deslocasse parada, sem movimento de rotação, porque, ao contrário do senso comum, a rotação dá estabilidade à bola e eu desejava exatamente que ela se tornasse instável ao final de sua trajetória. Para isso, aprendi como e onde deveria golpear a bola, qual o posicionamento ideal e o movimento do braço a executar (o que, aliás, causava uma vibração/solicitação exagerada dos tendões do meu ombro). Sabendo que a bola de voleibol era esférica mas não homogênea, porque havia um peso um pouco maior no ponto em que a válvula era colocada, concluí que seu posicionamento em relação à área do golpe na bola teria influência sobre o desvio objetivado na fase final da trajetória, imediatamente antes de chegar ao defensor. Não tive um técnico que me ensinasse. Foi autodidatismo puro. E quando a bola era mudada – aprendi na prática - era preciso uma adaptação às novas condições. Mais ou menos demorada. Deduzi assim, com o tempo, que o saque das nipônicas era também o resultado de um aprimoramento técnico conduzido com o método experimental. Não poderia ter sido um desenvolvimento teórico, com a utilização das equações de Stokes-Navier, que são aplicadas na descrição dos movimentos turbilhonares de fluidos (o ar passando pela bola que se desloca), pois sua operacionalização era (e ainda é) muito problemática. Não havia supercomputadores na época e o meio mais prático e adequado para testes aerodinâmicos era o túnel de vento, ainda hoje usado nos projetos de novos aviões, mas que dificilmente teria também sido utilizado para eficientizar os saques das nipônicas, simulando o efeito da turbulência sobre a bola de voleibol, por causa das dificuldades teóricas e práticas inerentes. Provavelmente, imaginei, utilizou-se um enfoque empírico, de ensaio e erro, até chegar-se ao saque ideal para cada jogadora, a partir do que foi levado a efeito um treinamento intensivo das atletas envolvidas, de modo a automatizar a execução do saque. Foi o que eu também fiz, para chegar a um saque “desagradável” para meus adversários: aquele em que o movimento da bola se tornava instável ao chegar ao defensor e descrevia o chamado “swing”, isto é, flutuava aleatoriamente. Atualmente, o saque passou a ser predominantemente violento (dado com pulo e gesto de cortada). Saques que tenham “swing” e confundam os defensores são cada vez menos relevantes, inclusive porque a sua defesa de toque é agora permitida e o toque não precisa ser perfeito como na regra antiga, o que facilita a recepção. Dizem que a tal jabulani tem algo que a fará o terror dos goleiros na COPA. Mas primeiro os atacantes precisam (re)aprender a chutá-la do modo certeiro e mortífero de sempre... E isso tem seus mistérios...
3. MOBRALTECA – Ana Maria Watson, a Anateca do MOBRAL, notabilizou-se porque materializou o Projeto MOBRALTECA. Agora, enviou-me uma entrevista feita por Mariana Cruz (o texto a seguir, entre aspas, é totalmente dela) com José Trabulsi, que foi Animador do projeto no Nordeste. “Um caminhão que circulava por diversas cidades projetando filmes, emprestando livros, espalhando arte por onde passava. Assim eram as Mobraltecas: unidades móveis criadas na década de 1970 com o objetivo de difundir cultura pelos quatro cantos de nosso país. Apesar das MOBRALTECAS não existirem mais, iniciativas como esta são sempre boas de serem lembradas. Nesta entrevista, um dos coordenadores deste ousado projeto, José Trabulsi, nos fala um pouco de sua experiência.
Qual a finalidade da Mobralteca?
José Trabulsi: A finalidade era a valorização da cultura local e a descoberta de valores pelas comunidades por onde passava. Era dinamizado o programa cultural com vários subprogramas como: literatura, artes plásticas, artesanato, televisão, cinema, música, patrimônio histórico e reservas naturais, folclore etc.
P.E.P.: Em que época foram criadas as Mobraltecas?
J.T.: Em 1974 foi lançada no Rio de Janeiro pelo Cecult (Centro Cultural do Mobral) a primeira Mobralteca, chamada de Santos Dumont, visando a descoberta de valores e a valorização da cultura local. Tinha ainda a finalidade de sustentar o aluno na sala de aula. Como a primeira Mobralteca foi de grande êxito, foram fabricadas mais 5 (cinco) unidades, onde duas foram patrocinadas pela caderneta de poupança DELFIN e uma pela caderneta de poupança PARANÁ. O restante eu não sei.
P.E.P.: O senhor poderia descrever como era fisicamente uma Mobralteca?
J.T.: Era um caminhão qualquer terreno com palco, serviços de som, projetores de filmes em 16mm e slides, circuito fechado de televisão, videocassete, pinacoteca, mais ou menos 3000 livros para serem emprestados às comunidades, baú da criatividade com todas ferramentas para trabalhos de artesanato em couro, madeira, tapeçaria, artes plásticas, crochê, instrumentos musicais e outros. Tudo isso alojado nos seus respectivos lugares, para um bom desempenho da equipe de trabalho. Tinha ainda, no interior do caminhão, 3 camas, 3 guarda-roupas, banheiro, geladeira, sistema elétrico trifásico.
P.E.P.: Que mudanças o senhor percebia após a passagem da Mobralteca pelas cidades?
J.T.: Muitas pessoas nas cidades por onde passávamos viviam no anonimato (músicos, artesãos, pintores, cantores, repentistas, poetas, dançarinos etc.) e com a apresentação deles na Mobralteca ficavam conhecidos e passavam a se apresentarem nas suas e outras comunidades, comercializando seus produtos, ou melhor, vivendo de sua profissão revelada.
P.E.P.: Como era o funcionamento da Mobralteca?
J.T.: Era montado um roteiro de 45 a 50 dias para a realização dos trabalhos a serem realizados de acordo com os objetivos especificados pela Coordenação do Estado em que a unidade se encontrava. Após a realização dos trabalhos, a equipe da Mobralteca tinha 10 dias de folga e 5 dias para estudo do novo roteiro a ser realizado.Cada roteiro tinha 3 momentos : 1- preparação feita por uma equipe da coordenação e, às vezes, juntamente com a equipe da Mobralteca (sempre a mesma equipe fazia a mobilização dos trabalhos nas localidades a serem trabalhadas); 2- execução dos trabalhos feitos pela equipe da Mobralteca com avaliações diárias; 3 - avaliação geral com a Coordenação envolvida e com a Coordenação-pólo (responsável pelo veículo), esta no final do roteiro.
P.E.P.: Em que regiões do país atuaram as Mobraltecas?
J.T.: As Mobraltecas atuaram na maioria dos municípios brasileiros e em alguns povoados, sendo divididos em seis REMOBs (Região Mobralteca): Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco e Maranhão. No meu caso, a minha região era Maranhão, Piauí, Ceará, Pará e Goiás Norte.
P.E.P.: Por que as Mobraltecas deixaram de existir?
J.T.: Assim que o presidente Collor assumiu o governo, para dar uma de bonzão, mandou colocar todos os veículos das fundações em leilão público e neste embalo as Mobraltecas também entraram. Eu fui ver o leilão. Com um pouco de dinheiro, tentei arrematar a Mobralteca. Mas que nada, não cheguei nem perto. Um político cobriu todos o lances e para o meu constrangimento e frustração saí de lá chorando em ver um projeto tão importante naquele momento ser enterrado para sempre. Vendo aquilo que eu cuidei com tanto zelo, também onde morei por alguns anos.”
Parabéns, Mariana Cruz. Escolheu o entrevistado certo. Um herói anônimo do Brasil interiorano. Nosso Trabulsi é um mobralense típico e suas recordações maravilhosas superam qualquer dificuldade e frustração.