1. MARINHEIRO DE PRIMEIRA VIAGEM (Final) – A última parada da viagem com minha mãe foi o Porto, para visitar Tia Maria José Castro, sua irmã que morava com o marido, Tio José, na tradicional Rua das Fontainhas, área de moradias populares, famosa pelos festejos grandiosos e imemoriais do dia de São João (24 de junho). A data é, para o Porto, o que o Santo Antonio (13 de junho) representa para Lisboa e o Carnaval (data móvel) para o Rio de Janeiro. Os festejos já eram referenciados no século XIV. A literatura registra que nas Fontainhas, por volta de 1834, o São João era celebrado com a maior animação popular que criou fama, dando origem a que se deslocassem para ali diversos grupos, “com roupas festivas, cantos e balões dependurados em ramos, numa afluência de gente ida de todos os cantos do Porto para se divertir e comemorar o santo.” Estávamos lá na festa de 1946 e meu pai repetiu nossa visita aos meus tios, nas Fontainhas, no São João de 1952. Na volta confirmou-nos que era uma “festa de arromba” e que a assistiu “de camarote”, da casa dos cunhados. Jamais voltei. Anos mais tarde, todas casinhas foram demolidas, quando da reurbanização da área para construir a Ponte do Infante (em honra do portuense Infante D. Henrique), ligando o bairro das Fontainhas (no Porto) à Serra do Pilar (em Vila Nova de Gaia). No Porto minha mãe me levou a algumas adegas e ourivesarias. Lembro-me bem do nosso embarque para o Brasil, logo depois das festas. Foi em Leixões, porto artificial construído no fim do século XIX e que fica em Matosinhos, uns 5 quilômetros a norte da Foz do Rio Douro. Viajamos em um navio de passageiros brasileiro, do Lóide, o Almirante Jaceguay, em primeira classe, bastante confortável, mesmo nos 21 longos dias de travessia até o Porto do Rio de Janeiro. Recordo que certa noite o barco parou, ao largo, em Dakar e que canoas com vários homens se acercaram do navio pedindo dinheiro. As moedas jogadas, se caíam no mar, eram apanhadas por aqueles mergulhadores improvisados lá no fundo escuro e mostradas aos turistas – o que me impressionou bastante. Durante a viagem brincava muito com a Iris, uma menina lourinha, da minha idade, filha de um diplomata que foi surpreendido pela guerra servindo, creio, como Cônsul na Alemanha. Minha mãe dizia que os pais de Iris, que a acompanhavam, eram de uma família ilustre de diplomatas, mas infelizmente não recordo do sobrenome. Nosso navio também comemorou a passagem do Equador mas aí eu já era um veterano, com certificado e tudo. Passamos nas proximidades da ilha de Fernando de Noronha, muito bonita. Um grande dia foi o da escala em Recife. Ao descer com minha mãe, ainda no cais, ela comprou uma melancia e alguns sapotis, que comemos com grande prazer, comemorando a volta aos trópicos. Para minha mãe, não havia nenhuma dúvida de que o Brasil tropical era a sua terra para o resto da vida. Tínhamos deixado Leixões a 26 de junho e chegamos ao Rio de Janeiro em 20 de julho de 1946, com uma bagagem bastante aumentada por incontáveis latas de azeite, de embutidos imersos em banha e inúmeras garrafas de vinho tinto e branco, verde e maduro. Ipanema me esperava, em especial o Colégio Fontainha, após 3 meses sem aulas, o que significava muito estudo pela frente, para recuperar o tempo passado naquela maravilhosa aventura ultramarina.
2. ECONOMIA EXIGE QUALIFICAÇÃO EM CURSOS RÁPIDOS – A inflação está em alta e as crescentes despesas correntes do Governo Federal assustam os analistas. São problemas que certamente precisam ser equacionados com presteza. Mas há uma outra prioridade que ganha força neste momento: a qualificação profissional que se faz em cursos curtos, pragmáticos, para atender às exigências mais urgentes do mercado de trabalho. A explicação está nos mais recentes dados econômicos, que sustentam a previsão otimista para o crescimento do PIB acima de 5% e que, além disso, mostram a expansão acelerada da demanda de mão de obra. Fevereiro, principalmente quando o Carnaval cai nesse mês, reduz a arrecadação da União e inibe a admissão de novos empregados, especialmente na Indústria, por ser muito curto, com menos de 20 dias produtivos. Apesar disso, a arrecadação federal chegou a R$ 53,5 bilhões e foi registrada excepcional geração de empregos: no Brasil todo. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego, 209.425 postos de trabalho foram criados. Somando com janeiro, já são 390.844 novas vagas neste ano - ótimo resultado , especialmente quando comparado com 2009 que, no mesmo período, ao contrário, registrou a destruição de 92 mil empregos. As maiores contratações de fevereiro foram em Serviços (85.607), Indústrias de Transformação (63.024) e Construção Civil (34.735), mas todos os setores e subsetores de atividade econômica contrataram. A urgência da Indústria e da Construção Civil em empregar são indicadores seguros do crescimento acelerado nessas áreas. Dessa forma, é preciso qualificar trabalhadores para o preenchimento das vagas que estão surgindo e que podem somar algo superior a 1,8 milhão de empregos novos no mercado formal. O problema mais sério a resolver é que a escolha desses cursos não é guiada pela demanda de qualificações em falta no mercado. Repetem-se os cursos que vêm sendo ministrados nos últimos anos, o que nem sempre atende às novas necessidades do setor produtivo. Falta um planejamento mais detalhado para o nosso mercado de trabalho, outra prioridade urgente.
3. LIBERDADES INDIVIDUAIS EM PERIGO – Sofri muito ao ver uma policial arrancar à força, dos braços de uma jovem mãe cigana, sua filha de um ano. A mãe, que vendia doces e bugigangas nas ruas de Jundiaí, recebeu ordem judicial para que a menina fosse internada e dela afastada. Terrível ! Fato com muitos pontos dolorosos de coincidência foi outra decisão recente, em que a Justiça de Timóteo (MG) condenou pais que retiraram seus dois filhos adolescentes da escola, para receberem ensino em casa, prática usual em vários países ("homeschooling"). Todos nós devemos refletir detidamente sobre esses dois episódios que limitam profundamente nossas liberdades individuais.
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Arlindo,
ResponderExcluirseus coloridos textos pincelados em tempo de terra firme ,abre vaga,- por mares nunca dantes navegados-, talvez uma descoberta!
Um livro refletido em vitrines nas livrarias destes países que se completam.Nosso Brasil- Portugal
"navegar é preciso /viver..."
Vá em frente.
Thereza
Senti o mesmo aperto,triste com a história cigana/ lembrei-me do antigo preconceito contra este povo errante e fascinante,que na minha infância,tanto sonhei viver com eles.
ResponderExcluirThereza
Amigos: grato pelos comentários. Realmente o episódio da jovem mãe cigana foi tenebroso e mostra que nossas liberdades individuais correm perigo. Como eu escrevi em blog anterior, em 1946, na viagem a Portugal, vi um acampamento cigano pela primeira vez e fiquei com medo, pois informaram a minha mãe que eles roubavam crianças etc etc. Preconceito da era salazarista, muito influenciada pelo fascismo. Mas o caso da cigana de Jundiaí tem precedentes históricos. Diz a Wikipedia que “na Suíça, em 1926, começou o costume de sequestrar meninos ciganos para serem educados entre não ciganos, prática que só seria abandonada em 1973 (é possível imaginar ???).” E a mesma Wikipedia segue explicando que no auge do nazismo aumentou a crueldade com os ciganos e Himmler ordenou a sua internação e depois a sua execução em massa. As estimativas vão desde 50 mil a 1,5 milhão de ciganos trucidados. Na Europa central e do leste, sob regimes comunistas, os ciganos sofreram políticas de assimilação e restrições da liberdade cultural. Na Bulgária, proibiu-se o uso da língua romani e a representação de música rom em atos públicos. Na antiga Checoslováquia, dezenas de milhares de ciganos da Eslováquia, Hungria e Romênia foram reassentados em regiões fronteiriças da Morávia, e foi proibido o estilo de vida nômade. Na Checoslováquia, onde foram classificados como "estrato social degradado", mulheres ciganas foram submetidas a esterilizações como parte da política do Estado, posta em prática mediante incentivos financeiros, ameaças de retirada de subsídios sociais e esterilização involuntária. Em Portugal, ainda existem cerca de 40 mil ciganos e no Brasil, estima-se que existam entre 678 mil (estimativas do governo) e 1 milhão de ciganos. E todos nós esperamos que recebam um tratamento não-discriminatório e que, muito ao contrário, possam enriquecer com sua cultura original a diversidade da nação brasileira.
ResponderExcluirArlindo
ResponderExcluirNa realidade, os prazeres dos sentimentos e das recordações estão mais no passado, antes mesmo de estarem no presente.Dentro desse pensamento,pude avaliar a sua alegria e suas emoções decorrentes dessa bela e inédita viagem a Portugal, nos idos do longínquo ano de 1946.Fiquei, mais uma vez, impressionado com a sua memória, particularmente quando você evoca detalhes que normalmente passariam despercebidos à maioria das pessoas.
Gostei muito desse seu texto, pois considero as nossas boas recordações uma maneira de manter sempre presentes a nostalgia e as alegrias do passado.Continue a nos brindar com suas memórias.Parabéns e um forte abraço,
Ronaldo
Caro Ronaldo, obrigado pelo incentivo ao blog. A memória sofre uma influência decisiva do impacto emocional que os fatos têm sobre o observador, daí talvez me lembrar de muita coisa dessa viagem, algo excepcional que ocorreu na minha infância. Mas realmente tenho facilidade de memorizar e isso ajuda, é claro. Abraços. Arlindo
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