1.CARNAVAL DA MINHA INFÂNCIA – Minha lembrança mais antiga do Carnaval é de meados da década dos 40. Na manhã calorenta, “bloco de sujo” desfilando na Rua Visconde de Pirajá e eu na frente, de short e cara pintada, empunhando uma caneca de metal, para arrecadar as moedas que o público generoso dava à garotada, premiando o batuque cadenciado e a animação das marchinhas cantadas a plenos pulmões. Menor do grupo, eu não era bom de tamborim ou pandeiro - cuíca ou bumbo, nem pensar ! - daí a dura missão de arrecadar os tostões, para a qual também jamais levei jeito...Cada turma tinha o seu bloco e ninguém queria ficar para trás. O meu era da Visconde, do trecho entre Montenegro e Farme de Amoedo. Nos dias de Carnaval, Ipanema ficava repleta de foliões individuais, em duplas ou pequenos grupos, vestidos de mulher, neném (com fraldas sujas de abacate), índio, tirolês, legionário, palhaço e pirata. As foliãs, em menor número, iam de odalisca, tirolesa, índia, bailarina e colombina. Mas o interessante mesmo era deparar com o inesperado. A Rainha de Sabá, negra e dourada, esplendorosa, na Prudente de Moraes, fazendo contraponto com a “nêga maluca”, em farrapos, da Teixeira de Melo; o deputado baiano, de microfone em punho, discursando na Praça General Osório e o próprio Getúlio Vargas, de bombachas e chimarrão, desfilando solene na Barão da Torre e acenando para o povo. Banho à fantasia não era coisa de Ipanema e ficava mais no Flamengo ou Copacabana. À tarde aconteciam os bailes infantis, na Praça do Lido (Copacabana) e no Helênico (na Praça General Osório), que para os adolescentes da Zona Sul davam lugar ao baile infanto-juvenil do Botafogo – o melhor de todos – ou os do Fluminense ou Monte Líbano – este, ainda na sede de Botafogo, antes da mudança para a Lagoa. Só bem mais tarde a turma da Miguel Lemos passou a ter seu criativo baile de rua em Copacabana. Na ida e na volta para os bailes, nosso Carnaval subia no bonde ( no 12 ou no 13, mas este preferentemente - que ia pelo Túnel Novo). Tinha batucada, cantoria e guerra de confetes com jatos de lança-perfume contra os passsageiros dos bondes que vinham em direção contrária. Nos dias sem baile infantil, a viagem de bonde era mais longa, até o Centro da Cidade, onde a animação não falhava. Lá, ainda havia um resíduo do corso, desfile de foliões e foliãs com fantasias de luxo, em carros conversíveis. Mas a predominância já era dos blocos organizados, bem fantasiados, com baterias excelentes, desembocando na Cinelândia e adjacências. O Cordão do Bola Preta já era sucesso absoluto. À noite, crianças como eu eram levadas pelos pais zelosos ao espetáculo supremo, dado pelas Grandes Sociedades: Pierrôs da Caverna, Fenianos, Democráticos, Tenentes do Diabo (meu pai foi sócio), com carros enormes e jovens bonitas, fantasiadas com pouca roupa, cantando e jogando beijos à assistência enlouquecida na Avenida.. O Carnaval de rua ainda predominava, mas confete, serpentina e lança-perfume já começavam a migrar para os salões e lá se fechariam por muitos anos... Anos mais tristes...
2. O EXEMPLO DE PORTUGAL – Carlos Roberto dos Santos Moura, meu colega de Mello e Souza e Escola de Engenharia, mandou-me um ótimo artigo sobre Energia, que partilho com meus leitores. Eis o texto: “No século XV, eram os portugueses exímios fabricantes de caravelas. Os seus engenheiros navais, especialistas em construções de madeira, ao longo dos anos, foram aperfeiçoando as peças. Tira um pouco daqui, apara dali, acabaram transformando a sua indústria naval em fábricas de tamancos. Continuaram, porém, o processo de aprimoramento das peças de madeira: tira um pouco dali, apara dali, transformaram a indústria tamanqueira em fábricas de palitos, que é a única coisa que Portugal produz, atualmente.” Embora descendente de portugueses, meu pai, como bom brasileiro, gostava de contar piadas ironizando nossos colonizadores, como a acima transcrita. Entretanto, nunca acreditou na alardeada burrice lusitana. Da mesma forma, sempre admirei a competência dos colegas engenheiros lusos. Assim, logo que me formei na Escola Nacional de Engenharia, no Rio, em dezembro de 1960, tratei de embarcar para Lisboa, em 3 de janeiro de 1961, rumo ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil, o famoso LNEC. Tive, então, a oportunidade de conhecer um pouco da tecnologia portuguesa em barragens, especialmente de concreto, e na engenharia hidráulica, em geral. Não por acaso, é português o projeto da barragem em abóboda delgada de concreto da Usina de Funil, no Rio Paraíba do Sul, perto de Resende (RJ). Também o alargamento da praia de Copacabana, realizado nos anos 60 (Governo Lacerda), contou com a supervisão do estimado Professor Lajinha, do LNEC. Essas antigas lembranças vieram-me à mente, quando tomei conhecimento da notável expansão da geração de energia eólica ocorrida em Portugal, após 2008. Hoje, 36% da eletricidade consumida é proveniente dos ventos ou diretamente do sol. Assim, houve significativa redução na dependência da importação de combustíveis fósseis, com evidentes vantagens econômicas e ambientais. Atualmente, são europeus os países líderes na participação eólica em suas matrizes energéticas: Dinamarca, com 20%; Portugal, 15%; e Espanha, alcançando pouco mais de 14%. O segundo lugar lusitano foi obtido em 2009, graças a um incremento de 31,6% em relação a 2008. Uma das estratégias utilizadas para o aumento da geração eólica foi a promoção do uso privado, incentivando os pequenos aerogeradores. A situação brasileira é bastante diferente: temos mais de 45% da energia (como um todo) oriunda de fontes renováveis. Na área de eletricidade, uma posição invejável, com a predominância absoluta da energia hidráulica. Porém, são enormes os desafios. Não há desenvolvimento sem aumento do consumo de energia. Se a demanda por eletricidade crescer mais rapidamente que a capacidade de ofertar energia ocorrerá um desequilíbrio que precisa ser evitado. O apagão de 2001 mostrou-nos a necessidade imperiosa da diversificação das fontes energéticas. É de fundamental importância o investimento em diferentes fontes de geração para que o Brasil possa se desenvolver de forma sustentável. Em termos mundiais, o uso de petróleo continua a crescer, em decorrência do padrão de consumo predominante nos Estados Unidos e da explosão desenvolvimentista na China e na Índia. O Brasil ocupa posição de liderança na tecnologia de fabricação do etanol e na sua produção industrial. Graças aos avanços tecnológicos e à evolução do processo produtivo, o álcool tornou-se competitivo. Embora sejam grandes as dificuldades para o licenciamento ambiental, a energia hidrelétrica ainda é primordial no sistema elétrico brasileiro. Assim, temos o desafio de construir Belo Monte e as usinas do Rio Madeira – Jirau e Santo Antônio, e mais outros aproveitamentos na Amazônia. Além disso, há a necessidade de investimento em linhas de transmissão, como o linhão Tucuruí – Manaus e a LT Porto Velho – Manaus, em corrente contínua. Apesar de 70% do seu território não ter sido prospectado, o Brasil possui uma reserva de 310.000 toneladas de urânio (sexta maior do mundo). Por isso, a construção da usina nuclear Angra 3 e de outra no nordeste é altamente recomendável, com o objetivo de diversificar a oferta de energia. Com referência à energia complementar, também podemos vencer o desafio de incrementar o uso de fontes renováveis, pois temos as dádivas do sol tropical, ventos abundantes e terras férteis, que favorecem o uso do álcool, bagaço de cana, carvão vegetal e até lenha, de forma sustentável. Certamente teremos um aumento da utilização da energia solar de forma direta para aquecimento de água. Mas, é a energia eólica que se apresenta com um grande potencial de crescimento, desde que vencido o desafio de reduzir os custos das usinas, como ocorreu no setor sucroalcooleiro. No caso da geração eólica, os equipamentos ainda são muito caros, a que dificulta sua competitividade. No entanto, investimentos para incentivar o uso maior dos ventos na nossa matriz energética podem vir a ser rentáveis futuramente, muito embora a participação maior ou menor de uma fonte não seja apenas um ato de vontade política. No momento presente, o exemplo de Portugal merece ser estudado, pois mais uma vez a experiência dos portugueses pode vir a ser útil para o Brasil.
2. O EXEMPLO DE PORTUGAL – Carlos Roberto dos Santos Moura, meu colega de Mello e Souza e Escola de Engenharia, mandou-me um ótimo artigo sobre Energia, que partilho com meus leitores. Eis o texto: “No século XV, eram os portugueses exímios fabricantes de caravelas. Os seus engenheiros navais, especialistas em construções de madeira, ao longo dos anos, foram aperfeiçoando as peças. Tira um pouco daqui, apara dali, acabaram transformando a sua indústria naval em fábricas de tamancos. Continuaram, porém, o processo de aprimoramento das peças de madeira: tira um pouco dali, apara dali, transformaram a indústria tamanqueira em fábricas de palitos, que é a única coisa que Portugal produz, atualmente.” Embora descendente de portugueses, meu pai, como bom brasileiro, gostava de contar piadas ironizando nossos colonizadores, como a acima transcrita. Entretanto, nunca acreditou na alardeada burrice lusitana. Da mesma forma, sempre admirei a competência dos colegas engenheiros lusos. Assim, logo que me formei na Escola Nacional de Engenharia, no Rio, em dezembro de 1960, tratei de embarcar para Lisboa, em 3 de janeiro de 1961, rumo ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil, o famoso LNEC. Tive, então, a oportunidade de conhecer um pouco da tecnologia portuguesa em barragens, especialmente de concreto, e na engenharia hidráulica, em geral. Não por acaso, é português o projeto da barragem em abóboda delgada de concreto da Usina de Funil, no Rio Paraíba do Sul, perto de Resende (RJ). Também o alargamento da praia de Copacabana, realizado nos anos 60 (Governo Lacerda), contou com a supervisão do estimado Professor Lajinha, do LNEC. Essas antigas lembranças vieram-me à mente, quando tomei conhecimento da notável expansão da geração de energia eólica ocorrida em Portugal, após 2008. Hoje, 36% da eletricidade consumida é proveniente dos ventos ou diretamente do sol. Assim, houve significativa redução na dependência da importação de combustíveis fósseis, com evidentes vantagens econômicas e ambientais. Atualmente, são europeus os países líderes na participação eólica em suas matrizes energéticas: Dinamarca, com 20%; Portugal, 15%; e Espanha, alcançando pouco mais de 14%. O segundo lugar lusitano foi obtido em 2009, graças a um incremento de 31,6% em relação a 2008. Uma das estratégias utilizadas para o aumento da geração eólica foi a promoção do uso privado, incentivando os pequenos aerogeradores. A situação brasileira é bastante diferente: temos mais de 45% da energia (como um todo) oriunda de fontes renováveis. Na área de eletricidade, uma posição invejável, com a predominância absoluta da energia hidráulica. Porém, são enormes os desafios. Não há desenvolvimento sem aumento do consumo de energia. Se a demanda por eletricidade crescer mais rapidamente que a capacidade de ofertar energia ocorrerá um desequilíbrio que precisa ser evitado. O apagão de 2001 mostrou-nos a necessidade imperiosa da diversificação das fontes energéticas. É de fundamental importância o investimento em diferentes fontes de geração para que o Brasil possa se desenvolver de forma sustentável. Em termos mundiais, o uso de petróleo continua a crescer, em decorrência do padrão de consumo predominante nos Estados Unidos e da explosão desenvolvimentista na China e na Índia. O Brasil ocupa posição de liderança na tecnologia de fabricação do etanol e na sua produção industrial. Graças aos avanços tecnológicos e à evolução do processo produtivo, o álcool tornou-se competitivo. Embora sejam grandes as dificuldades para o licenciamento ambiental, a energia hidrelétrica ainda é primordial no sistema elétrico brasileiro. Assim, temos o desafio de construir Belo Monte e as usinas do Rio Madeira – Jirau e Santo Antônio, e mais outros aproveitamentos na Amazônia. Além disso, há a necessidade de investimento em linhas de transmissão, como o linhão Tucuruí – Manaus e a LT Porto Velho – Manaus, em corrente contínua. Apesar de 70% do seu território não ter sido prospectado, o Brasil possui uma reserva de 310.000 toneladas de urânio (sexta maior do mundo). Por isso, a construção da usina nuclear Angra 3 e de outra no nordeste é altamente recomendável, com o objetivo de diversificar a oferta de energia. Com referência à energia complementar, também podemos vencer o desafio de incrementar o uso de fontes renováveis, pois temos as dádivas do sol tropical, ventos abundantes e terras férteis, que favorecem o uso do álcool, bagaço de cana, carvão vegetal e até lenha, de forma sustentável. Certamente teremos um aumento da utilização da energia solar de forma direta para aquecimento de água. Mas, é a energia eólica que se apresenta com um grande potencial de crescimento, desde que vencido o desafio de reduzir os custos das usinas, como ocorreu no setor sucroalcooleiro. No caso da geração eólica, os equipamentos ainda são muito caros, a que dificulta sua competitividade. No entanto, investimentos para incentivar o uso maior dos ventos na nossa matriz energética podem vir a ser rentáveis futuramente, muito embora a participação maior ou menor de uma fonte não seja apenas um ato de vontade política. No momento presente, o exemplo de Portugal merece ser estudado, pois mais uma vez a experiência dos portugueses pode vir a ser útil para o Brasil.
Arlindo, não me causou qualquer transtorno segui-lo pelos seus textos muito bem elaborados. Só não o perdôo por não ter descrito a sua fantasia... E continuo esperando para a degustação de sardinhas, camarões crocantes e, talvez, um tamboril com arroz, bem a gosto dos portugueses. Saiba que já comi no Mercado de Niterói a quase inexistente língua de bacalhau: foi ao alho e óleo.
ResponderExcluirRoberto Pimentel.
Oi Arlindo
ResponderExcluirGostei muito da nova programação do seu blog. É ágil e visualmente bem organizada.
Sua descrição sobre o carnaval me levou para o túnel do tempo e eu reconheci nela muito do carnaval da minha própria infância, só que nos anos 50.
Partilhar suas recordações é uma experiência muito agradável, pois você fala de um tempo que é bastante familiar para mim, já que a mamãe - como você - também era uma excelente contadora de histórias acerca dos anos 40 e 50. Ler suas memórias me permite rever iamgens que povoaram a minha infância e isso é muito bom. Alegra o coração.
Com carinho, Adélia
Arlindo e Carlos Roberto.
ResponderExcluirPerdi o texto duas vezes, mas insisto...não desisto...um dito de propaganda, quando ainda não se falava em marqueting.
O seu blog ficou mais lindo. Admiro mais ainda o seu talento literário.
De fato o DNA português, se é que isto existe, não os tem vestígios de burro. Aliás o parceiro para os equipamentos hidromecânicos em todos os consórcios de fornecimentos para usinas hidrelétricas era a BSI, con sede em Portugal e de alguma forma ligada à Bardella. Fui també o iniciador de atividades nos segmentos de PCHs e repotenciação na Siemens do Brasil.
Então me sinto com uma obrigação de apontar para a necessidade urgente de se reformarem as percepções à luz dos desenvolvimentos tecnológicos de fontes alternativas, como a eólica, que certamente não teria prestígio em Portugal - e Espanha - se não fosse competitiva.
Também faz uma diferença enorme construir uma usina como Xingó e outras no rio São Francisco ou na Floresta Amazônica. Na época nem se discutia ainda Mudanças Climáticas e Sustentabilidade. A geração eólica no Nordeste não causa deslocamentos, perdas de habitats, emissões de metano, migrações, especulação fundiária; tampouco exige a construção de longas linhas de transmissão; de quebra promove a evolução da indústria nacional e qualificação de
mão-de-obra. As hidrelétricas na Amazônia interessam mesmo às cementeiras e barrageiras, além dos vultos políticos macunaímas associados ao Sarney. Belo Monte não precisa nem deve ser construída. A licença foi estorquida do IBAMA, com consentimento do Minc. Marina teve motivos para se dispensar.
Abraços. Harald
1. Para satisfazer a curiosidade "arqueológica" do Prof. Roberto Pimentel adiciono ao blog uma foto que mostra como um garoto-índio de Ipanema se fantasiava em 1942, aos 5 anos de idade. Comparando com a foto de terno, pode-se ver o que 65 anos a mais fazem de um pobre mortal. 2. Grato à Adélia pelo incentivo ao blog. Arlindo
ResponderExcluirMuito bom o texto e a foto melhor ainda, pois é a minha cara...rsrsrs
ResponderExcluirCláudia
Grato por ter aceitado a provocação,pois só assim ganhamos todos, inclusive com direito a foto.
ResponderExcluirRoberto Pimentel.
Adorei a foto.
ResponderExcluirAlém disso, dá para constatar como você e a Claudia (concordo com ela), mas também a Carla, são muito parecidos - os mesmos olhos - "desde pequeninos"!!!!
Bom carnaval
Com carinho, Adélia
Meu caro Harald
ResponderExcluirLouvo sua preocupação ambiental. Entretanto, antes de afirmar que Belo Monte não deve ser construída, peço-lhe para exaninar o seu projeto, após a última reformulação. Recomendo-lhe, também consultar o Plano Nacional de Energia, lançado em 2007, que prevê a necessidade de 230.000 MW de enegia elétrica em 2030 (isso significa mais do que dobrar nossa capacidade instalada nos próximos 20 anos). Sugiro-lhe, ainda, dar um olhada no Plano Decenal de Energia 2008/2017, divulgado no ano passado.
Um grande abraço do seu colega Carlos Roberto
Caro Carlos Roberto.
ResponderExcluirA consulta do Plano Nacional de Energia está no meu programa. Acontece que não confio na sua objetividade. Desde os anos 80 sei que os prognósticos de demanda são influenciados pelos interesses antes citados. Além disso, uma potência instalada correspondente a 30% da existente pode se economizada pela promoção de uso mais racional - aumento da eficiência energética - e substituição de eletricidade por calor, o que não é promovido. O potencial eólico é estimado em 140.000 MW, maior que toda a potência hoje instalada. Só nas usinas de açúcar e álcool podem ser produzidos 14.000 MW. Portanto a minha afirmação de que Belo Monte, além de desnecessário, ser um crime se sustenta facilmente, independente do projeto que tenham desenvolvido. Confesso que não conheço as bases do prognóstico da demanda futura. Seria conveniente verificar de que modo a tendênca de consumos menores em decorrência do desenvolvi-mento tecnológico foi considerada. De qualquer modo a pressão exercida pelo governo é uma fraude (mais uma), que poucos percebem. Finalmente, eu agradeceria que não tivesse algo de ironia no sentido de "ambientalismo" na qualificação do "zelo", que deveria ser responsabilidade de todos.
Abraço
Harald
Estimado Harald
ResponderExcluirNunca usei de ironia ao cuidar de temas ambientais. Não utilizei as palavras "ambientalismo" e "zelo". Pelo contrário, louvei sua preocupação ambiental, que é minha também. Para sua informação, em 1973, quando poucos se preocupavam com ecologia no Brasil, passei uma temporada nos Estados Unidos estudando as restrições impostas pela EPA (Environmental Protection Agency), então recém criada, às usinas geradoras de energia e às emissões veiculares. Como presidente de associações de engenheiros, inclusive da Federação Brasileira de Associações de Engenheiros, sempre defendi que os cuidados ambientais devem ser cogitados desde a concepção do empreendimento. Além disso, meu último cargo público foi justamente na área de meio-ambiente, como Subsecretário de Estado do Distrito Federal (cargo que deixei em janeiro de 2007, quando assumiu o atual Governador).Reitero que você deve procurar se informar melhor antes de criticar. O Plano Nacional de Energia, que considera inclusive um aumento da eficiência energética, está disponível na internet. O fato é que a nossa matriz elétrica está baseada fortemente na hidroelericidade (cerca de 90% podendo se reduzir para algo em torno de 75%, em 2030).
Também sou favorável a um aumento da geração eólica. Aliás, esse é o eixo temático do texto. Entretanto, sei que não podemos prescindir de hidrelétricas na Amazônia. Também a interligação entre as margens direita e esquerda do Rio Amazonas será altamente benéfica ao equilíbrio do sistema elétrico brasileiro em face das diferenças hidrológicas.Um abraço Carlos Roberto
Carlos Roberto.
ResponderExcluirNão tive ainda o tempo para consultar os Planos de Energia, o que devo fazer ainda durante os dias de carnaval. Mas isto não é necessário para afirmar, que toda a visão de desenvolvimen-to da Amazônia, incluisve da implantação das hidrelétricas, ruinosas para a floresta, como todas as demais obras, precisa ser reformulada. Trata-se de uma mudança de percepções tão necessária como o abandono daquela de que a inflação era benéfica para o desenvolvimento do país, que encontrei ao regressar em 1978/9 e era, por absurda que fosse, defendida por colegas muito inteligentes. Percepção é crença, mal se sabe no que se está atado. Todos sabem que a hidreleticidade domina a matriz energética brasileira brasileira; simplesmente o fato não é argumento. Ocorre que você não respondeu ao argumento que temos alternativas mais do que suficientes para deixar de construir usinas hidrelétricas na Amazônia, cujos efeitos colaterais sobe a floresta são devastadores. O IBAMA sabe muito bem disso, mas é amordaçado. E eu fiz um curso sobre economia ambiental no SENAC, onde um exemplo de cálculo de economia ecológica comprovou, que mesmo algumas PCHs não deveriam ser construídas, aliás para minha grande surpresa. Verei a que os Planos contêm de informações novas.
Abraço
Harald
Meu prezado Harald
ResponderExcluirNo meu texro original, transcrito pelo Arlindo, afirmei "...é a energia eólica que se apresenta com um grande potencial de crescimento, desde que vencido o desafio de reduzir os custos das usinas,..." A propósito, como o Arlindo tem um primo em Portugal que trabalha com energia eólica, pedi-lhe para verificar a possibilidade de nos fornecer dados de custos dos pequenos aerogeradores que lá estão sendo utilizados.
No Brasil, ao final de 2007,a capacidade de geração eólica instalada era de 247 MW, dos quais 208 MW o foram em 2006. No final de 2008, contávamos com 440 MW; ao final de 2009, esse número foi elevado para 660 MW, graças sobretudo ao Proinfa (Programa Nacional de Incentivo às Fontes Alternativas). Recordo-me, agora, que em 97 ou 98, elaborei, como consultor do Senado, um estudo para o entâo Senador e, hoje, Ministro de Minas e Energia Edison Lobão, sobre fontes renováveis que evidenciou a necessidade de um fundo para incentivar o uso de fontes alternativas, propondo a criação de um programa por mim batizado de PIER - Programa de Incentivo a Energias Renováveis. Constitucionalmente, tal fundo teria que ser criado por mensagem do Executivo, o que veio a ser feito algum tempo depois com o nome de Proinfa. Voltando ao nosso assunto, a previsão do Greenpeace é que cheguemos a 2012 com 3.000 MW, com o impulso dado pelo leilão de energia eólica realizado em dezembro último. Se considerarmos um incremento anual da ordem de 650 MW (quase igual à atual capacidade instalada), chegaremos a 2030 com quase 12.000 MW. Se forem realizados leilões anuais de 1.000 MW de energia eólica, conforme pleiteado por Ricardo Baitelo coordenador da Campanha de Energias Renováveis do Greenpace Brasil, poderemos chegar, com 100% de sucesso nos leilões, a algo em torno de 21000 MW, em 2030, ou até mais, se tivermos êxito na obtenção da diminuição de custo das usinas ou fazendas eólicas. Mas, nada prósimo dos 140.000 MW que você afirmou (sem citar a fonte) ser o potencial brasileiro.
A contribuição do alcool e do bagaço de cana é muito importante. Entretanto, precisamos até 2030 acrescentar mais cerca de 120.000 MW à nossa capacidade instalada. É claro que todas as formas de geração energética geram impactos. Até a eólica que você e eu estamos defendendo causa poluição sonora e pode ameaçar pássaros se instaladas suas torres com hélices em rotas de migração. Mesmo somando todas as contribuições das diversas fontes possíveis, não podemod prescindir da geração hídrica que é limpa,renovável e a de menor custo. E nós temos 120.000 MW a serem explorados na Amazônia. É claro que essa exploração tem que ser feita de forma racional, com respeito à legislação ambiental. Cito agora palavras de Marcio Porto, diretos de construção de Furnas: "certamente a tecnologia das turbinas bulbo irá proprcionar
um aproveitamento dos potenciais hidrelétricos da região Norte - onde estão as reservas mais importantes do país - muito mais amigável ambientalmente. A associação de pequenas áreas inundadas com a implementação de mecanismos de transposição de peixes eficazes, projetados para cada aproveitamento específico, além do indispensável zelo ambiental que os projetos na Amazônia requerem, permitirá uma exploração equilibrada e sustentável desses potenciais, com benefícios para a matriz energética brasileira e para as populações da região."
Cumpre-me assinalar que Belo Monte não usará turbinas bulbo mas terá uma das menores relações área alagada/energia gerada. A energia elétrica também tem que ser entendida como um bem de inclusão social; mais oferta de energia, mais saúde e mais educação.
Em conclusão, precisamos ter, até 2030, mais 120.000 MW de energia limpa: é possível, obter-se cerca de 40.000 MW de diversas fontes, entre as quais a eólica; 80.000 MW deverão ser provenientes de hidrelétricas.
Um abraço
Carlos Roberto S. Moura
Agradeço os comentários do Carlos Roberto e Harald, que enriqueceram o blog com suas opiniões. Os leitores puderam formar um quadro interessante do futuro de nossa matriz energética. Arlindo
ResponderExcluirCarlos Roberto.
ResponderExcluirO potencial de energia eólica consta em Plano Nacional de Energia 2030 (PNE 2030) - Geração de Energia Elétrica a Partir de outras Fontes, de tenho uma hard copy, lida antes de sua recomendação para que me informasse na fontes oficiais. Não posso modificar a argumentação, nem calar, se você contribiu na composição dessas fontes. As potências unitárias das turbinas hoje estão entre 2.000 e 4.000 (5.000)KW, bem superiores às constantes no plano. Basta conferir nos sites dos fornecedores, entre os quais consta a Siemens. Decorre daí que os números no seu texto acima não estão certos, precisando ser refeitos. Então contabilize corretamente também as possibilidades de repotenciações, reduções de perdas, aumento de eficiência e economia de energia. Juntos, por baixo, correspondem a 60% da potência instalada atual. O potencial de geração com bio-massa nem está aí incluído. Fato é que o próprio PROINFRA tem o vício de dificultar o empreendedorismo em benefício - suposto - do Estado. Caso você quiser se informar da visão americana sobre o assunto, recomendo o livro Plan B3.0 de Lester Brown (Já existe o Plan B4.0). E o noticiário não deixa de demonstrar o quanto o Brasil está literalmente anestesiado - "dormindo no ponto" em comparação com o dinamismo desenvolvido pela China, simplesmente por causa de um maldito sonho de desenvolvimento amazônico, que de desenvolvimento social nada contém, mas muito de destruição ambiental. [Não é por acaso que as licenças são impostas ao IBAMA. Você saberá melhor do que eu por quem.] Isto fica evidenciado no fato, incontestável, de que a energia gerada, a custos possivelmente não corretos, será consumida a grande distância das fontes / usinas. O fato de Belo Monte ser um projeto megalômano de potência firme muito baixa nem é o argumento principal contra a sua execução. A devastação incontrolável da natureza na região - danos indiretos - provavelmente não são contabilizados. Sobre a especulação fundiária mal se noticia. Desculpe a ênfase; fico constrangido, mas é fato: O pronunciamento de Furnas, órgão estatal, que você reproduziu, é pura balela. Trata-se de um pronunciamento de uma péssima política contra a qual o cidadão é praticamente indefeso. Aliás: Os pognósticos de consumo baseados na comparação com os consumos de sociedades desenvolvidas não podem estar corretos. Julguei que os seguidores
do blog precisavam ser melhor informados.
Abraço
Harald
Esta foi a primeira página de meu segundo blog. Parece que foi ontem que eu a escrevi. O tempo voa para a turma da terceira idade! Saudades!
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