ELITE NO PARQUE DAS ÁGUAS – Antigamente, as famílias cariocas da classe média tinham uma receita infalível para sua saúde física e mental. Começavam o ano nas estações de águas. Eram outros tempos, mas as zonas urbanas de maior densidade populacional já causavam demasiado estresse aos seus habitantes. Aqueles 21 dias de lazer regado a muita água mineral, em clima ideal para o repouso e a reposição de forças, eram uma solução admirável. Os cariocas preferiam Caxambu, São Lourenço, Cambuquira e Lambari, inclusive pela facilidade de acesso, embora aquele trem com baldeação em Cruzeiro não fosse o passeio dos meus sonhos. Mas depois vieram as estradas asfaltadas, meus pais compraram carro e tudo ficou mais fácil. Mas até de avião DC-3 fomos lá, saltando em Campanha e atingindo Cambuquira de táxi. Sim, minha família pertencia á “turma” de Cambuquira. Era uma espécie de religião. As famílias tinham suas irremovíveis preferências e todos os anos iam para o mesmo hotel, na mesma cidade, sabendo que iam encontrar os mesmos companheiros de caminhadas pelo parque, de roda de baralho e de cassino – pois mesmo depois de proibido, em 1946, o jogo escondido era usual nesses locais de veraneio. As famílias antigas gostavam da rotina e tinham razão. Rotina, ao menos para os idosos, quer dizer estar com boa saúde, com a vida financeira regulada, sem problemas na família – e isso é muito bom quando se é velho ! Nossa cidade adotiva de férias tinha ótimos hotéis: Vitória, Empreza, Globo, Silva, Matos, Elite. Éramos da “clientela” do Seu Jari, do Hotel Elite, que ficava na rua principal e cujos fundos davam para o Parque das Águas... Foi gozado nos primeiros anos, pois meu pai levava para Cambuquira seu inevitável vinho tinto do Dão, vindo diretamente de sua Oliveira de Barreiros em enormes pipas. Bebia água mineral também, mas o vinho ao almoço e ao jantar era um hábito ancestral. As mesas de refeições eram fixas, por família, e a presença daquela garrafa destoante, com líquido bordô, mesmo naquele salão enorme, não passava despercebida. Alguns paravam para ver se era verdade... Com o passar dos anos até o vinho do meu pai virou rotina. As caminhadas pela mata do parque; as excursões a cavalo pelas fazendas das redondezas de Cambuquira ou para ir à longínqua Fonte do Marimbeiro; o pingue-pongue e a piscina diária; as “paqueradas” em grupo até a porta dos outros hotéis para ver caras novas; o engarrafamento das águas exportadas do Parque para os demais Estados - tudo isso era nossa fonte de diversão. Para nossos pais, as fontes que mais contavam eram a magnesiana, a alcalina, a sulfurosa, a ferruginosa etc. Podia ser rotina - mas era maravilhoso. Quando fui entrando na adolescência, passei também a jogar voleibol na quadra do parque. A mesma onde as principais equipes do Brasil disputavam os famosos Torneios de Cambuquira. Aliás, parece incrível, mas nos 20 anos em que joguei no voleibol oficial pelo Fluminense, convidado certo, jamais disputei esse Torneio que todos atletas adoravam. Comida boa e farta, farra, seresta, ótimas companhias - nada faltava no Torneio. Às vezes tinha briga feia, por causa das rivalidades provincianas. Bem, mas isso é assunto para o blog do Prof. Roberto Pimentel em http://procrie.com.br/ O fato é que todos os “veranistas” – era assim que os nativos nos chamavam - voltavam daquelas férias bem dispostos e prontos para enfrentar o ano que começava. As fotos mais antigas que tenho de nossas viagens são de 1940 (chegando ao Hotel no meu “carro de bodinho”) e as mais recentes de 1952 (esperando o chofer de meus pais junto ao nosso carro, para passeio com amigos veranistas). Posteriormente, a estação de águas caiu em desuso, Cambuquira declinou, todos os hotés que citei fecharam. Infelizmente, conforme vi e li no blog http://cambuka.blogspot.com/ o belo prédio centenário do Hotel Elite, em estilo romano, está em ruínas, desmoronando, principalmente na parte dos fundos. E assim se perde a história de uma época, neste País sem memória...Mas para mim aquelas muitas férias são inesquecíveis !
2. NOVA REITORA FOI SUPERVISORA DO MOBRAL - A Prof.ª Ms. Maria Célia Pressinatto, Supervisora do MOBRAL em Limeira, onde fez um trabalho primoroso, é a nova Reitora do Centro Universitário Barão de Mauá, de Ribeirão Preto, São Paulo. Dela recebi o seguinte email: “Gosto muito de ler seu blog e perceber o quanto você é crítico em relação aos acontecimentos do país. Dia 29/01 tomei posse como Reitora do Centro Universitário Barão de Mauá e como sempre contei com o seu apoio, estou comunicando. No site do Centro Universitário estão as fotos da posse em http://www.baraodemaua.br/ Foi uma solenidade bonita e a minha emoção foi muito grande e queria compartilhar com você. No meu discurso disse que fiz parte da implantação do MOBRAL, trabalho que sempre me orgulhou muito.” Célia, sempre leal à instituição em que trabalhamos e aos princípios que norteavam as atividades do MOBRAL, merece esse destaque.
3.SÃO PAULO TEM SALVAÇÃO - Em janeiro e fevereiro de 1910, PARIS sofreu a maior inundação de sua história. A estação de ORSAY (atual Museu d`Orsay) ficou com mais de metro e meio de água; em grande parte do Centro foram colocadas passarelas para possibilitar o deslocamento de pedestres; em muitas áreas da Cidade o acesso só era possível por barco; a Catedral de Notre Dame e a Torre Eiffel ficaram isoladas; o Hôtel de Ville, ilhado por água acumulada no fosso que dava acesso aos porões; o Canal de San Martin desapareceu e a eclusa de La Monnaie, então reguladora do nível do Sena, foi ultrapassada pelas águas do rio....Enfim, um verdadeiro caos. Veja o que aconteceu, nas fotos do site http://inondation1910.paris.fr/ Cem anos depois, a Cidade-Luz continua sendo a mais linda do mundo, apesar de ter passado também pelas duas guerras mundiais. São Paulo, a mais rica cidade brasileira, tem solução e há propostas ousadas para evitar suas enchentes. Entre elas, despejar suas águas excedentes no Atlântico, através de uma hidrelétrica que aproveitaria a queda entre o planalto e a Baixada Santista. É claro que as soluções demandarão muito empenho, por vários anos. É provável que São Paulo não se torne a mais linda cidade do mundo nem em 2110, mas um trabalho sério e competente iniciado imediatamente impedirá que continue essa imensa ilha de concreto, cercada de águas fétidas por todos os lados.
4.RECEITA ABOLE PAPEL – Terrível o anúncio, da Receita Federal, de que no próximo ano não mais serão aceitas declarações de imposto de renda em formulário de papel. Os idosos que as apresentam desse modo terão que pagar um salário-mínimo, subtraído de suas parcas aposentadorias, para que alguém as faça em meio eletrônico. Os velhinhos já estão estressados desde agora... e passando mal...
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Só com as suas lembranças aqui descritas, uma alma nova renasce para nós.
ResponderExcluirObrigado!
Gilberto Lemes
http://cambuquira.blogspot.com
http://cambuka.blogspot.com
http://cambuka.wordpress.com
ARLINDO
ResponderExcluirSEU LIVRO VAI SURGINDO. HISTÓRIA DE UMA ÉPOCA ( SEM DUPLO SENTIDO)
SAUDAÇÕES THEREZA
Estive algumas vezes nestas Estações de Águas quando criança e minhas vagas lembranças são de hotéis enormes, salões de refeições lotados com mesas muito bem postas, parques com multidões de copinhos e garrafas nas mãos em busca dos mais variados tipos de água mineral... Foram sempre bons os dias em que nestas cidades estive e já adolescente voltei à Cambuquira onde passei na casa de amigos um ótimo Carnaval...
ResponderExcluirCláudia.
Agradeço os comentários e agora reconheço que deveria ter dedicado algum espaço aos copos de que os veranistas se serviam para beber água nas fontes. Eram dos mais variados tipos, mas dificilmente omitiam a expressão "Lembrança de Cambuquira". Havia-os cilíndricos, quadrados, com ou sem pé, envoltos em armação de palhinha ou plástica, com ou sem o nome gravado do(a) dono(a)etc etc. Os copos, pela variedade infinita e pela criatividade de seus criadores, mereceriam um museu temático. E quando estive em Marienbad e Carlsbad - que têm séculos de história - verifiquei que esse costume é antigo e mundial. Arlindo
ResponderExcluirCom muito prazer lí suas lembrancas. Por um pedacinho só poderiam ser quase minhas lembrancas :). Me lembro muito bem do lindo Hotel Impresa, os proprietários eram na minha época os meus padrinhos Dona Ida Willig Guimaraes e esposo. À propos ..."copos de que os veranistas se serviam...": me lembro, que dos tipos de copos, também de plástico, deixavam-se achatar e tampar com tampas vermelhas ou azuis, para poder ser colados na bolsa, sendo assim sempre à disposicao na próxima fonte durante passeios no parque. Tudo hà muito, muito tempo...
ResponderExcluirrenate
Renate: grato pelo comentário. Ao fundo, na foto do "carro de bodinho", pode-se ver do lado esquerdo a rua em ladeira que ia para o lindo Hotel de seus padrinhos. Muita saudade daquele tempo maravilhoso ! Arlindo Lopes Corrêa
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