segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

ECONOMIA BRASILEIRA EM MAR DE ALMIRANTE

1.MARINHEIRO DE PRIMEIRA VIAGEM (I) – Na década dos 40, as viagens à Europa e Estados Unidos eram normalmente feitas em navios. Dirigível era alemão e só existira antes da guerra, nos anos 30. Avião era exceção, para um público reduzidíssimo. Encerrada a II Guerra Mundial, em 1945, minha mãe ficou na expectativa de uma oportunidade para viajar a Portugal e rever seus pais, ambos com mais de 70 anos de idade. Muitos outros filhos de imigrantes, como eu, fariam essa mesma viagem, para conhecer avós e as terras ancestrais. Foi o caso de José Carlos Santiago, da rede de voleibol em que jogo atualmente na Barra, e dos irmãos Eduardo e Isolda, donos do famoso CHAIKA. Todos filhos de portugueses e moradores de Ipanema, cujas recordações devem ser semelhantes às minhas. Em 1946, minha mãe e eu fomos para Portugal, no primeiro navio disponível: o Duque de Caxias, navio-transporte da Marinha de Guerra, que em agosto de 1945 viera de Nápoles (Itália) transportando os “pracinhas” da FEB de volta ao Brasil. Nossa viagem era atípica, em classe única. Os paquetes comerciais, de carreira, tinham geralmente três classes, com diferentes graus de comodidade, mas o Duque de Caxias era um navio de guerra, com outra configuração. Deixamos o porto do Rio de Janeiro a 28 de abril de 1946 e chegamos a Lisboa no dia 10 de maio à noite, aportando na manhã seguinte – cinzenta e muito fria, até para a primavera européia. Na travessia do Atlântico, vivi 13 dias de aventura, correndo por todos os cantos do barco, visitando maravilhado aquelas máquinas poderosas lá embaixo, descobrindo um mundo novo. Ainda mais que o navio tinha 2 canhões. e 12 metralhadoras, trazendo a realidade da guerra para perto dos meus olhos. Em 8 de maio, esse armamento entrou em ação e presenciamos um exercício de tiro em alto-mar, comemorando o primeiro aniversário do Dia da Vitória. Interessante também havia sido a passagem do Equador: festiva, marinheiros vestidos de Netuno, com tridente e tudo, dando trote e banhos de mangueira nos companheiros que passavam a linha imaginária pela primeira vez. Todos nós, calouros do Equador, recebemos diplomas atestando aquela nossa nova experiência marítima. No mais, lembro dos banhos diários com um sabonete especial, porque a água, dessalinizada pelos equipamentos de bordo, era muito “dura” (cheia de sais minerais) e só fazia espuma com aquele “tijolinho” escuro e inodoro. Aliás, “diziam” que fazia espuma...mas era uma batalha inglória. Lembrança marcante, também, era a despensa particular que minha mãe levava em sua bagagem, com vários pacotes de pão de forma, muitas latas de conserva (recordo-me da sardinha e da presuntada), bolos etc para alguma emergência, prevendo minha não adaptação à comida de bordo. À noite, eu costumava ir à sala dos radiotelegrafistas, onde ouvia a Hora do Brasil e depois as ondas-curtas de emissoras brasileiras. O navio “jogava” enormemente, a viagem não era absolutamente confortável e o número de pessoas enjoadas era descomunal, mas eu resisti bravamente às ondas do Atlântico. O espetáculo dos botos, em grande quantidade, nadando permanentemente na esteira deixada pelo navio, à espera de comida, era outra fonte de distração e encantamento. Tristes, no Duque de Caxias, só os momentos em que os alto-falantes nos avisavam que estávamos passando no ponto onde o navio x ou y, da nossa Marinha Mercante, havia sido atacado e afundado por algum submarino alemão. Chegando a Lisboa, a primeira recordação que me ficou foi da confusão com a nossa bagagem. Naquela época, nos navios, viajava-se com um enorme baú, pesadíssimo e nada portátil, que levava o grosso das roupas e ia despachado no porão do barco. A esse verdadeiro “container” em miniatura somavam-se algumas malas menores (mas não tanto), que no caso de minha mãe continham todos os presentes a dar para a família (enorme) e bons amigos ausentes por tanto tempo. Até desembaraçar tudo na Alfândega e aninhar aquela verdadeira “mudança” no carro de aluguel (assim chamavam o táxi), foi uma eternidade. Café, goiabada, açucar e cigarros, escassos e caros em Portugal, eram os itens preferenciais dentre os presentes, além das roupas brasileiras, naturalmente. Do porto de Lisboa, fomos para o Largo do Rossio, onde ficava a pensão onde nos hospedamos, em localização muito conveniente pois em outro andar do mesmo prédio morava uma prima de minha mãe. Nossa prima, casada com o Dr. Antonio, funcionário graduado do Banco de Portugal, do qual ganhei minha primeira coleção de selos, foi nossa companhia inseparável em Lisboa. O prédio onde ficamos ainda existe e é um daqueles magníficos e lindos exemplos da arquitetura portuguesa, imponentes e totalmente restaurados, na praça onde a estátua de D. Pedro IV de Portugal – o nosso D. Pedro I – reina absoluta. Em 1946, ainda havia racionamento de comida em Portugal, pão e carne bovina sendo sujeitos a restrições, mas nossa pensão, mesmo assim, seguia o ritual do longo cardápio europeu: às refeições, invariavelmente, serviam uma sopa, um primeiro prato de peixe (ainda que fosse o modesto carapau, sardinha de terceira categoria), um segundo prato de carne (geralmente branca ou carne de porco) e a sobremesa (fruta da estação ou doce). A cada refeição só se comia um pão francês, que eles chamavam de “papo-seco”. Café...nem pensar...Coisa só de brasileiro, maior produtor mundial da preciosa rubiácea. Mas não faltavam o vinho, o azeite e o vinagre. O que eu gostava mesmo era dos pacotes de meio quilo de cerejas e meio quilo de nêsperas (que ainda não existiam no Brasil) que minha mãe comprava religiosamente, todas as manhãs, ao sairmos para visitar a cidade. Lisboa ainda exibia grandes e luxuosas confeitarias - onde costumavam sentar-se os membros das realezas destronadas e decaídas da Europa destroçada pela guerra. Ponto de parada obrigatório era também um dos muitos quiosques de ginjinha (licor de uma espécie de cereja brava), no Rossio ou na Praça da Figueira, para um cálice da bebida com uma frutinha dentro. No mais, era explorar o desconhecido e me lembro da ida ao imponente Mosteiro dos Jerônimos, onde as mulheres só eram admitidas com um véu negro cobrindo a cabeça (minha mãe teve que comprar um à entrada). Também me recordo da Torre de Belém, onde minha mãe explicou orgulhosa que dali saíram os barcos que descobriram o Brasil. Inesquecível e jamais repetida ao longo de minha vida, foi a tarde no Campo Pequeno, para ver uma tourada, em um domingo ensolarado, com muita música e emoção, aquelas roupas coloridas dos toureiros, cavaleiros e bandarilheiros – uma festa para os olhos. Com certa reverência, minha mãe, ex-camponesa pobre, anunciou um dia que iríamos ao Estoril, local chiquérrimo, ainda então habitado por muitos ex-reis e rainhas, imperadores e imperatrizes, que vagavam suas lembranças e roupas da “belle époque” nas mesas do célebre Cassino – onde não pude entrar – e no luxuoso Hotel anexo. Realmente o Estoril era lindo, com jardins irreais de tão bem projetados e tratados. Algumas pessoas que lá vi pareciam saídas de um filme do início do século e de certa forma o eram, ao viver na esperança de um tempo que jamais voltaria...Outra excursão interessante foi à Costa da Caparica, do outro lado do Tejo, próxima à atual Ponte 25 de Abril, onde a prima de minha mãe tinha uma casa de férias. Pegamos uma barca - tipo Rio-Niterói - e chegamos a uma praia de areias alvíssimas, na qual ficava a casa da prima. No mais, eram as andanças pela Avenida da Liberdade, as idas aos ourives da Rua da Prata, as subidas no Elevador da Santa Justa, ligando a Cidade Baixa à Cidade Alta. Depois de alguns dias em Lisboa fomos de trem para Oliveira de Barreiros, em Viseu, terra do meu pai. Bem, mas essa é outra história, para outro blog, de modo a não cansar os pacientes leitores com minhas aventuras infantis.


2. EMPREGO E PIB PROMISSORES EM 2010 - O país registrou em janeiro de 2010 a geração de 181.419 empregos com carteira assinada. A indústria de transformação teve resultado excelente, com a criação de 68.920 empregos. O setor de serviços com 57.889 vagas e a construção civil com 54.330 postos formais criados, completaram um quadro muito positivo, que dá esperanças de um ano muito bom para o mercado de trabalho. A performance da Indústria – motor do desenvolvimento econômico – reforça, por outro lado, as expectativas otimistas de crescimento geral da economia brasileira, cujo PIB vai expandir-se acima de 5%. Nesse patamar, fará crescer a renda per capita da população, melhorando sua qualidade de vida.

4 comentários:

  1. Apreciei muito a verdadeira aventura infantil. Mas um detalhe chamou-me a atenção: "a primeira coleção de selos". Pressuponho que seja um colecionador. Como guardo a coleção de meu pai, filatelista amador desde criança, espero algum dia trocarmos figurinhas a esse respeito. Enquanto isto, ponho-me em expectativa aguardando seus contos da Região do Dão.Roberto Pimentel.

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  2. Caro colega Arlindo
    A sua narrativa dos fatos passados é muito boa de acompanhar. Não só esta da viagem de navio, com passeios em Lisboa, mas também as reminiscências do tempo vivido em Ipanema,com praia e até blocos de carnaval. Acho que tem matéria suficiente para escrever um livro de memórias e nem vai precisar de revisão. É só reproduzir os temas com que nos brinda em seu blog. Vou esperar a continuação da viagem em Portugal e quem sabe... a publicação do livro.
    Inés O. Boghossian

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  3. Agradeço aos meus amigos pelos incentivos que dão generosamente a este blog com seus comentários. 1. Roberto, em dado momento dei minha coleção de selos, que teve aquele impulso inicial do primo António, que me doou peças lindas, mas que eu não segui por não ter o espírito do colecionador 2. Inês, vou pensar nessa possibilidade, como contribuição para que as pessoas saibam como foi aquela época em Ipanema, pois o bairro só é lembrado pelas celebridades e não pelas famílias que o construíram, o que acho uma lacuna grave. Talvez venha a ser uma obra muito ingênua para os dias correntes. Grato pela atenção. Arlindo Lopes Corrêa

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  4. Arlindo
    é o seu livro cresce-
    neste lindo Portugal paterno meu acompanhei sua viagem muito bem relatada.

    Quanto a melhoria da qualidade de vida de nosso Brasil somando empregos/renda per capita,vamos crescendo- mas acredito que enquanto a EDUCAÇÃO E SAÚDE não forem prioritárias existirá um grande obstáculo nesta melhoria.
    Saudações Thereza

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