domingo, 30 de maio de 2010

O DIA EM QUE O MOBRAL CHEGOU À LUA

1.FUTEBOL E VISÕES NAS AREIAS DE IPANEMA – Joguei futebol até os 17/18 anos de idade. Depois não deu mais. Paulo Azeredo, meu técnico de voleibol no Fluminense, reclamava da minha dupla dedicação esportiva. Os jogos do Campeonato Carioca de Juvenis, que eu disputava, eram aos domingos pela manhã. Afora os Campeonatos Colegiais pelo Mello e Souza, nessa época eu praticamente só jogava futebol na praia, em Ipanema, pelo Clube Lagoa, do Posto Nove, mas as partidas eram sábado à tarde. Acontecia eventualmente de eu chegar ao jogo de voleibol machucado ou cansado, porque atuara como centro-avante no dia anterior e os beques me marcavam muito duramente. Vai daí... Deixei o Lagoa com muita pena. Tinha grandes amigos no time, que era uma potência. Na linha jogavam, Huguinho Ibeas, Eduardo do Chaika, Serginho, Rogério, Lulu Adnet; na defesa, os irmãos Manhães – Alex, Carlinhos e Nandinho – mais o Raul (esse mesmo, o das pizzas !), Maneta, Rubinho e Sérgio Bilula. O dono do time era o Théo Sodré. O Lagoa era um contrassenso: a camisa era do Flamengo e o Théo botafoguense histórico, sobrinho do Mimi Sodré, fundador do alvinegro. E apesar do nome, o Lagoa só jogava na praia e nunca atuou na Rodrigo de Freitas, lagoa onde também havia areia e dois campos de futebol em frente à Montenegro. Nossos adversários na Liga de Ipanema/Leblon eram o Grêmio Leblon, Tatuis, Torino, Vidigal, Porangaba, Monte Castelo. Um momento memorável, para nós, garotos do Lagoa, foi o sábado em que os jogadores húngaros da famosa Seleção de 1954, em turnê pelo mundo como asilados, fugindo do “paraíso” comunista, foram ver nosso time em ação e alguns até jogaram uns poucos minutos conosco. Ficaram espantadíssimos com a nossa habilidade em dominar a bola na areia fofa e cheia de ondulações, conduzí-la, dar passes e chutá-la com precisão. O time magiar era repleto de craques, considerados os melhores do mundo na época: do goleiro Grosics ao ponta Czibor, incluindo Kocsis, Nándor Hidegkuti, Buzánszky, Bózsik e Budai, comandados pelo capitão da equipe, Ferenc Puskás e pelo técnico Gusztáv Sebes, todos davam show de bola. O poderio ofensivo dos húngaros era incrível; tomamos um 4 x 1 deles na Copa do Mundo na Suiça, embora nossa equipe fosse excelente. A imprensa apareceu no campo do Lagoa e tirou várias fotografias, estampadas nos jornais do dia seguinte. Foi a suprema glória da nossa turma ! Houve uma época em que o Lagoa teve sua sede social, em uma casa da Avenida Epitácio Pessoa (essa sim, na Lagoa !). Bailes e festas memoráveis, atividades culturais, conferências, sessões de cinema, peças teatrais etc etc. Espetaculares eram as sessões em que nosso amigo César dos Santos da Silva (do Chaika) mostrava suas incríveis habilidades paranormais. Aliás, César, mais tarde, e por muitos anos, foi convidado a percorrer vários países para exibir esse seu talento excepcional. Certa noite de apresentação no Lagoa, César chamou um dos nossos jovens associados e o hipnotizou profundamente. A seguir, deu-lhe inúmeras sugestões, testando sua reação. O auge aconteceu quando César disse ao paciente que ele estava na Praia de Ipanema, sentindo muito calor, e via, ao longe, uma silhueta de mulher que se aproximava. Nosso herói desabotoou a parte superior da camisa e mostrou que suava muito com o sol de Ipanema. A seguir, fixou os olhos no horizonte e avistou a miragem. César disse-lhe que ela estava pertinho e era linda... - Meu Deus,– sugeriu – é incrível ! É a Brigite Bardot... e acrescentou que ela sorria e vinha em sua direção. Estava de biquini e parecia que ia tirá-lo !!! Nessas alturas, sob o protesto da rapaziada e a aprovação das senhoras e moças presentes, César interrompeu a sessão porque o olhar lascivo do entusiasmado hipnotizado já superara os limites da malícia e chegara ao terreno da indecência. Nunca vi uma expressão facial tão sugestiva, mesmo nos grandes atores de cinema e teatro. Impressionante, memorável e inesquecível ! Muitas saudades do Lagoa e sua gente...
2. GERAÇÃO DE EMPREGOS PARA ESTRANGEIROS – Segundo dados da Coordenação-Geral de Imigração do Ministério do Trabalho e Emprego, no período de 2005 a 2009 foram concedidas 165.933 autorizações de trabalho no Brasil para estrangeiros, das quais 11.978 autorizações permanentes e 154.015 temporárias. À exceção de 2009, este número vem crescendo anualmente. Os trabalhadores estrangeiros são principalmente dos Estados Unidos (14,2% do total de autorizações) , seguidos pelas Filipinas (com 8,9%), Reino Unido (8,4%), Índia (4,4%) e França (4,3%). Do total geral, 90% das autorizações (149.281) referiam-se a profissionais com grau de escolaridade superior ou segundo grau completo. Efeitos visíveis da Globalização a que já aludimos anteriormente. E da descoberta, pelo mundo, das potencialidades e oportunidades da economia brasileira. Eu sugeriria que entre esses trabalhadores, vindos do exterior, estivessem calceteiros portugueses, importados pela Prefeitura do Rio de Janeiro para recuperar nossas calçadas de pedra portuguesa que estão sendo destruídas velozmente pelo desconhecimento dos nativos a seu respeito. Pedras portuguesas autênticas são fixadas pela perícia dos artífices que as colocam, umas contra as outras, usando apenas terra, de modo a preservar a permeabilidade às águas pluviais e evitar alagamentos e enchentes. Da mesma forma, não apresentam desníveis, cuja existência acarreta seu deslocamento pelos transeuntes, criando os indesejáveis buracos. Usar cimento para fixá-las e “varrer” calçadas com aqueles jatos diabólicos de água sob pressão vão acabar com as belas calçadas decoradas de nossa Cidade ex-Maravilhosa.
3. ALTO PARAÍSO DE GOIÁS - Em 1973 o MOBRAL assinou seu Convênio de Alfabetização com Alto Paraíso de Goiás, o único Município brasileiro que ainda não o tinha feito anteriormente. E assim o MOBRAL “fechou” o Brasil. Mário Henrique Simonsen foi até o Presidente Médici para comemorar o feito inigualado, até então, por qualquer outro órgão público. Nem os Correios, o Exército ou o IBGE estavam em todos os Municípios... Alto Paraíso de Goiás era um centro de garimpo e praticamente só tinha população flutuante. Nesse primeiro convênio atendemos a grupos bastante marginalizados: prostitutas, mineradores por conta própria, ambulantes, sem terra etc etc É lá, em Alto Paraíso, que coincidentemente fica o exótico VALE DA LUA, considerado um dos dez lugares mais estranhos da Terra. Suas formações rochosas de quartzo e outros cristais, situadas a 38 quilômetros da sede do Município, estão entre as mais antigas e também mais diferentes do planeta, formando piscinas naturais de beleza exótica. Dizem que parece solo lunar. Daí o nome. É.. mas havia brasileiros necessitados e o MOBRAL chegou lá após apenas 3 anos de atuação ! Mais uma meta alcançada e uma espetacular vitória a relembrar...

terça-feira, 25 de maio de 2010

VOLEIBOL DOS TEMPOS DO CACHORRO AMARRADO COM LINGUIÇA

1.JOGOS DE INVERNO DE SANTOS – Fui jogador de voleibol nos tempos do amadorismo. Ganhava-se pouco – ou melhor, nada - mas era divertido. Uma das boas coisas do esporte oficial eram as excursões. O Fluminense, onde joguei toda vida (de 1953 a 1973), sempre foi muito convidado - pela importância do clube e pelo padrão técnico de nossa equipe. Na década dos 50 tive a sorte de entrar no timaço formado por Átila, Gil, Parker, Garcia, Mário, Ronaldo, Naga, Paulo Careca, Jonjoca, Jair Osmonde, Marquinhos, Xinxa etc. O técnico era Paulo Azeredo, dotado da paciência necessária para administrar aquela plêiade de astros temperamentais e cheios de vontades. Eu vinha do juvenil tricolor, onde ingressei em 1953, levado da praia pelo técnico Corrente (Hélio Cerqueira). Subindo para a Primeira Divisão, ainda bem jovem pude participar na conquista de títulos muito importantes pelo tricolor: fui tri-campeão do Rio de Janeiro (1956, 57 e 58) e Campeão dos Campeões Sul-Americanos, invicto, no Torneio de Buenos Aires, em 1957, contra as melhores equipes da Argentina, Uruguai, Paraguai. As excursões do tricolor para jogar fora do Rio eram maravilhosas, até porque nossa turma, só de estudantes e profissionais universitários, era animada, criativa e fazia muito sucesso em todos os sentidos. As cidades mais visitadas eram São Paulo, Belo Horizonte, Cambuquira, Juiz de Fora... No exterior nosso time jogou em Buenos Aires e La Paz. Em todas, sempre uma festa ! E havia os fabulosos Jogos de Inverno de Santos, nas férias do meio do ano ! Para lá íamos sempre em ônibus privativo, viajávamos à noite, na véspera da estréia, por força do orçamento apertado. Saíamos do Terminal Rodoviário Mariano Procópio na Praça Mauá e uma vez, enquanto esperávamos o transporte, vimos que havia um verdadeiro escrete de cômicos muito populares, também em grupo, aguardando embarque para São Paulo: Costinha, Zé Trindade, Brandão Filho, Colé, Walter D`Ávila e Grande Otelo. Os mais famosos do Brasil, no cinema, rádio e na ainda incipiente televisão. Até parece que iam disputar um grande “campeonato do riso” na Paulicéia...Claro que os elegemos para uma “pegadinha”- para passar o tempo enquanto o ônibus não vinha. Combinamos e partimos para a ação. Par ou ímpar... e três foram escalados. De papel e caneta na mão, a intervalos, um a um nos aproximamos dos comediantes, pedimos seus autógrafos e eles, satisfeitos, iam assinando. Mas combinamos: sempre quando chegasse a vez do Colé falaríamos que não era preciso. Eu, por exemplo, disse: “não, só os mais famosos...” A cara de decepção do Colé era de morrer de rir !!! Vocês não imaginam. Logo ele, que estava no auge da badalação, fazia dupla com a bela vedete argentina Nélia Paula, no Teatro Follies da Avenida Nossa Senhora de Copacabana, logo alí no Posto Seis, em frente à Galeria Alaska. A gozação dos outros artistas em cima dele foi impagável: o riso espalhafatoso do Grande Otelo, os gritinhos em falsete do Costinha e o bordão famoso do Zé Trindade: “o que é a Natureza...” O Colé sofreu. Desforra pelas inúmeras vezes em que ele, Colé, chamava um assistente de suas peças ao palco e “gozava” impiedosamente o infeliz, sob o delírio da platéia. Naquela noite ele pagou os pecados. No fim, quando eles iam embarcar, ficamos com pena, fomos até eles e dessa vez pedimos o autógrafo do desolado Colé, explicando que era coisa de atletas gozadores, para animar a noite. E acrescentamos que o Colé era nosso ídolo, não saíamos do Follies, bla bla, bla... Mas que foi uma comédia, lá isso foi... Em Santos tudo era bom. A Cidade era muito parecida com o Rio e estava no auge do prestígio: era o ponto de encontro dos paulistanos em férias. Os mais ricos frequentavam o Parque Balneário Hotel, um daqueles luxuosos cassinos arruinados pela proibição dos jogos de azar em 1946, pelo Presidente Dutra, sob a inspiração de Dona Santinha, sua esposa, catequizada pelo Cardeal Dom Jaime de Barros Câmara. Moralismo que desempregou 53.200 pessoas de imediato ! Era no Parque Balneário que nós, atletas tricolores, sempre convidados de honra, também montávamos nosso quartel-general fora das quadras. Bailes com boa música, as famílias quatrocentonas na última moda e nós com nossos impecáveis ternos sob medida – a turma era elegante e o Rio, na época, ditava o que era “in” ou “out”. Para nós, cariocas, o que mais impressionava naquelas festas é que se tratava de um baile de sobrenomes: as pessoas, ao se apresentarem, diziam o nome de família e só depois o prenome – que era o que nos interessava, em princípio. Em certos momentos, havia um cheiro de Carnaval fora de época no salão – era o lança-perfume levado do Rio para ser jogado nos decotes das paulistanas em flor – que se arrepiavam de frio mas acabavam adorando a brincadeira. Os jardins do Hotel também eram muito bem cuidados e iluminados e para lá a festa se prolongava quando os pares descansavam, pois se ouvia ao longe o bolero ou o blue da orquestra afinada. Bem...e havia o voleibol, é claro, com nosso time brilhando. Ficávamos sempre à beira-mar, na Praia do José Menino. Às vezes em Hotel, outras vezes em Colégios como o Escolástica Rosa - que mantinham internatos e estavam em férias. Qualquer que fosse o lugar, tudo se ajeitava – jogo de cintura não nos faltava. Eram outros tempos, o esporte da rede de alto nível de competição era elitista e não estava ao alcance de todas as classes sociais. No ano em que nos alojaram no Escolástica Rosa, com os 12 atletas em um grande dormitório com 6 camas-beliche bastante incômodas, às vésperas da Final do Torneio fomos, por conta própria, para uma pensão onde poderíamos descansar melhor. Outro ano, em que a comida dos jogadores era péssima e o Chefe da Delegação era Fábio Egipto, sutilmente o convidamos, juntamente com sua esposa Dona Electra, para jantar no melhor restaurante da cidade – no Hotel Atlântico. Em meio aos camarões, tournedos e morangos com creme – tudo pago por nós... – fizemos com que o dirigente entendesse nosso protesto mudo. As brincadeiras eram muitas e às vezes exageradas. Marquinhos, nosso levantador, tinha sono pesadíssimo. Nada o acordava. No fim de certa madrugada, sua cama foi conduzida para a beira dos trilhos da linha de bondes da Praia de José Menino e seus companheiros fizeram plantão até a chegada do primeiro bonde do dia, às 5 da manhã. O motorneiro, ao ver aquela cama envolta em quilômetros de papel higiênico, acionou o alarme do bonde e conseguiu acordar o Marquinhos, que ficou atônito. Só despertou de fato quando seus companheiros o abraçaram e levaram a cama de volta para o Hotel entre risadas mil. Eram assim aqueles tempos irresponsáveis mas inocentes. 2. RECICLAGEM É UMA ÓTIMA ! Pesquisa feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA, calcula que o potencial máximo de reciclagem no Brasil, se atingido, geraria renda de R$ 8 bilhões ao ano. Hoje, a economia obtida com a atividade está na faixa de R$ 1,3 a 3 bilhões anualmente. Atualmente, apenas 14% da população brasileira conta com o serviço de coleta seletiva e somente 3% dos resíduos sólidos gerados nas cidades são coletados nos municípios. Seria ótimo elevar essa performance porque a reciclagem tem permitido o resgate social de grupos excluídos, além de contribuir decisivamente com as políticas de conservação do meio ambiente. 3.GERAÇÃO DE EMPREGOS – Em abril, 305.068 empregos formais foram criados em nosso País, acumulando um total de 962.327 postos de trabalho gerados neste ano. Isso confirma as previsões de chegarmos ao fim de 2010 com saldo positivo superior a 1,7 milhão de carteiras assinadas – que é a quantidade mínima requerida para dar emprego à totalidade da nova geração de jovens que chega todo ano ao mercado de trabalho. 4.SUIPA E OUTROS BICHOS – Não conheço os envolvidos, mas sinto que o problema que acomete a SUIPA no Rio de Janeiro é a falta de recursos para dar, aos animais abandonados, o tratamento adequado. Os bichos chegam à instituição aos milhares e em estado deplorável. Apesar dos poucos recursos, a SUIPA recebe-os todos e ministra-lhes o tratamento que lhe é possível – e não o ideal. Há setores da vida nacional que tratam de gente, com a mesma falta de meios, prestam serviços deficientes e talvez não choquem tanto a opinião pública. Vamos punir todos (humanos ???) que abandonam seus animais indefesos, sem dó, piedade e responsabilidade. Um chip nos bichos seria uma boa forma de ajudar a SUIPA a cumprir sua missão humanitária.

domingo, 16 de maio de 2010

FUTURO DO EMPREGO ESTÁ NOS VELHOS

1.AS TENDÊNCIAS DO MERCADO DE TRABALHO – para quem ainda está na ativa ou pretende ajudar os mais jovens a buscar seus caminhos profissionais, selecionei algumas reflexões sobre o futuro do mercado de trabalho. Não há muitas novidades e estas idéias já fazem parte de um certo consenso a respeito do cenário do mundo econômico que vem por aí... Ao longo dos tempos, as sociedades foram sofrendo mudanças nos setores produtivos que estão se acelerando. Do mundo eminentemente agropastoril que perdurou por milênios passamos às sociedades industriais que duraram uns poucos séculos. Destas, evoluímos para o estágio pós-industrial, no qual:
• predomina o Setor de Serviços, que cresce cada vez mais (sobre a Indústria, segunda empregadora e a Agricultura, cuja mão de obra decresce rapidamente);
• as tecnologias dominantes na sociedade são intensivas em Conhecimento,
• os serviços de tecnologias de informação e comunicação (TIC) são cada vez mais consumidos;
• os processos de produção repousam primordialmente na interação homem/homem;
• o principal fator de riqueza é a inovação, a produtividade intelectual.

Vivemos a era da Globalização, acelerada pelo desenvolvimento crescente das TIC e dos transportes. Assim:
• há cada vez maior permeabilidade entre os mercados dos diversos países, de modo que a competição não respeita limites territoriais;
• as sociedades agropastoris remanescentes (da África, por exemplo) são colocadas em confronto com as sociedades industriais (emergentes do Terceiro Mundo) e ambas com as sociedades pós-industriais (dos países ricos), todas competindo pelos mesmos mercados mundiais;
• o deslocamento de fábricas e de centros de produção de serviços para países com melhores condições de competição torna-se corriqueiro, da mesma forma que as exportações e importações crescem rápido. É cada vez mais comum trabalhar em um país e morar em outro;
• As tecnologias fluem mais livremente entre as nações, ocasionando certa uniformização dos processos produtivos, só descontinuada quando ocorrem inovações que levam a um salto e novo estágio qualitativo;
• Para profissionais de ponta o mercado passa a ser planetário;
• O estabelecimento da Sociedade do Conhecimento (pós-industrial) é compatível com a Era da Globalização;
• A Globalização exige pesado investimento na ciência, na criação de tecnologias e seu desenvolvimento, no estímulo à criatividade e na promoção da educação, esta entendida, necessariamente, como educação continuada e universal – para todos, durante toda vida.
Os efeitos da Globalização sobre o mercado de trabalho são os mesmos decorrentes da aceleração do progresso derivada da evolução científico-tecnológica:
• postos de trabalho são destruídos em massa, principalmente nos setores industriais;
• Já na década dos 90, com a abertura da economia brasileira, a perda de postos de trabalho assumiu proporções dramáticas, pois a ocupação chegou a cair em 1,6 milhão de 1995 para 1996 !;
• A globalização, ao expor os setores produtivos à competição internacional, favorece as tecnologias poupadoras de mão-de-obra, que permitem redução de custos e maior competitividade;
• exige-se cada vez maior escolaridade e qualificação profissional dos trabalhadores para o exercício da mesma ocupação;
• proliferam novas profissões, principalmente nos setores econômicos mais dinâmicos;
• desaparecem ou tornam-se obsoletas muitas ocupações antigas e tradicionais.
Em termos de profissões, as mudanças podem ser depreendidas das alterações sofridas pela Classificação Brasileira de Ocupações – CBO que, em 1994, contava com 2.356 ocupações. Com os acréscimos derivados da evolução do mercado de trabalho, o número de ocupações registradas chega agora a 2.511.
Alguns exemplos bem conhecidos, na cadeia produtiva da manutenção de automóveis, são ilustrativos das descontinuidades do mundo do trabalho atual:
• Quando surgiu a nova geração de carros com informática embarcada, começou a derrocada das pequenas oficinas de conserto de automóveis e com ela a perda de muitos milhares de empregos, especialmente para jovens aprendizes das classes mais pobres que ali buscavam sua primeira ocupação e o início de uma carreira ou de um empreendimento;
• Esse vácuo está sendo parcialmente preenchido (em muito menor escala) pelas borracharias e pelas atividades de reciclagem (que tem futuro em todo mundo, principalmente nos grandes centros urbanos, desde que a pesquisemos e saibamos incentivá-la e apoiá-la);
• Um exemplo dramático: o pneu que não fura já foi desenvolvido e seu protótipo está sendo testado e aperfeiçoado para ter preço competitivo. Um salto tecnológico desse tipo aniquilará muitos milhões de empregos em todo o mundo (no caso, nas borracharias);
• A robótica, a nanotecnologia e muitos outros ramos similares estão aí presentes, para lembrar-nos cotidianamente do espectro do desemprego em massa.
As novas tecnologias, poupadoras de tempo e mão-de-obra, elevaram o desemprego a níveis que parecem irreversíveis - de tão duradouros - e expulsaram para o mercado informal uma série enorme de ocupações que não têm viabilidade econômica no setor formal, sujeito à regulação e à tributação.
Uma das tarefas mais importantes dos formuladores de políticas públicas de trabalho é a busca de alternativas para levar a uma sociedade sem desemprego, com informalidade em proporções normais (necessária em função da liberdade econômica, da criatividade do empreendedor e da inviabilidade econômica das empresas muito pequenas).
Caminhos Alternativos para um Mundo sem Desemprego seriam:
• Trabalho social voluntário incentivado (renúncia fiscal, precedências, prêmios etc);
• Trabalho social semi-voluntário de baixa remuneração;
• Trabalho em meio expediente;
• Trabalho Sazonal Regular;
• Trabalho na própria moradia ou em Centros próximos à moradia para idosos e pessoas com necessidades especiais (Teletrabalho);
• Políticas Compensatórias e Contraprestação Social (das “bolsas” doadas pelo Governo);
• Mobilização de desocupados em emergências, catástrofes naturais; grandes acidentes; epidemias, incêndios florestais;
• Trabalhos Sociais Permanentes: vigilância ambiental (proteção à flora e à fauna; combate à poluição etc); assistência aos desvalidos em geral; tarefas de segurança comunitária; atividades de prevenção em geral.

2.GRAY POWER – Nessa sociedade do porvir – é bom lembrar – predominará uma população de idade média sensivelmente mais alta do que a de hoje. Assim, uma boa idéia de quem teme as rápidas mudanças do mercado de trabalho é escolher carreiras cujas atividades tenham relação com as necessidades dos idosos. Aliás, os próprios velhos, com mais saúde, continuarão por mais tempo na força de trabalho. Inclusive porque faltará mão-de-obra: os jovens, sozinhos, não darão conta da oferta de empregos e das oportunidades de trabalho em geral. Outra mudança importante será a crescente força política da turma da terceira idade – o “gray power” vem aí, com força total...O envelhecimento populacional torna indispensável que se conheça melhor o idoso o que resultará na quebra de muitos mitos. Mas temos onde aprender: com as nações cuja pirâmide populacional já mudou há muitos anos, como o Japão e os países escandinavos. Um exemplo muito interessante vem da pesquisa de Bo G Eriksson, da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, que estudou um grupo de indivíduos selecionados aleatoriamente, nascidos em 1901 e 1902, que foram acompanhados de perto durante suas vidas inteiras. Eriksson focou o período dos 70 aos 90 anos de idade dessas pessoas. E descobriu que as pessoas se tornam cada vez mais diferentes à medida que envelhecem, ao contrário do senso comum. "A percepção das pessoas idosas como tendo interesses, valores e estilos de vida semelhantes pode levar à discriminação baseada na idade. No entanto, descobri que, conforme as pessoas envelhecem, esses estereótipos se tornam cada vez mais falsos," diz Eriksson.

sábado, 1 de maio de 2010

FUTEBOL, VINHO, CUIDADOR - QUANTO MAIS VELHOS...

1. FUTEBOL DOS TEMPOS DE DON DON NO ANDARAHY – Vocês teriam coragem de sentar na cadeira de um dentista que se chamasse MARRETA ? Só louco, não é ? Pois o meu dentista é o Marreta, vulgo Ronald Alzuguir, meu amigão, colega de turma desde o 2º. Ano Primário até o 3º. Ano Científico. Primeiro aluno brilhante e orador de sua turma na Faculdade Nacional de Odontologia da UFRJ. Caráter íntegro, ser humano de primeira categoria. Graças a seus passes magistrais fui Campeão de Futebol e artilheiro (com 8 gols) dos Jogos Colegiais do Rio de Janeiro pelo Mello e Souza. Ronald foi craque profissional de futebol do Botafogo, do Guarani e do Flamengo, além de ”bilula” do Seu Nenem, no Americano, time famoso do futebol de areia em Copacabana. O apelido Marreta era por causa da sua virilidade natural como bom half back direito... É, naquele tempo a nomenclatura ainda era inglesa: eu, por exemplo, era center forward. Pois bem: só agora descobri que Ronald tem um blog no qual conta as histórias deliciosas que viveu com Garrincha, Newton Santos, Manga, Zezé Moreira etc de um futebol ainda romântico, que já não existe mais. Amantes do futebol, visitem http://marretapopular.blogspot.com que vocês vão gostar ! E foi vendo o blog do Ronald que me lembrei do primeiro jogo de futebol profissional a que assisti. Infelizmente, só recordo que estava com meu primo Amilcar em uma arquibancada de cimento e o jogo corria lá embaixo. Como Amilcar era vascaíno, o jogo só podia ser do cruzmaltino... Mas é só. Porém do segundo jogo a que assisti, desse eu me lembro muito bem: Flamengo x Vasco, 1944, campo da Gávea, decisão do tricampeonato para os rubro-negros. Na época eu era flamenguista. Meu pai torcia pelo Flamengo...Quem me levava aos jogos era um amigo dele, Dr. Borges, da sua roda diária de pôquer – todas as noites, religiosamente, tinha jogo na minha casa. Dr. Borges, sempre de charuto na boca, me pegava pela mão e lá íamos pela Visconde de Pirajá, onde morávamos, até o Jardim de Alah. Passado o canal, chegávamos ao ponto do vendedor de laranjas, com aquela maquininha de manivela e roda dentada que ia tirando a casca da fruta em tiras fininhas, certinhas. E que tinha um canivete muito afiado, com o qual cortava a parte superior do fruto já descascado e sempre muito doce, gostoso como não se vê mais...Chupando laranja, embicávamos para dentro da favela, a famosa Praia do Pinto, cortando caminho. Passávamos pelas balisas impecáveis do campo de terra do glorioso time da favela – o Águia Futebol Clube – e pouco depois chegávamos às roletas do Flamengo. Dr. Borges era sócio-proprietário e ficávamos na Tribuna de Honra. Ao lado, à direita, acima da Tribuna, as cabines de rádio e os locutores célebres da época: Ary Barroso, Gagliano Neto, Oduvaldo Cozzi. Meus olhos brilhavam de encantamento. Entraram em campo pelo Flamengo nesse dia: Jurandir, Newton e Quirino; Biguá, Bria e Jayme; Valido, Zizinho, Pirilo, Tião e Vevé. Naquele tempo os jogadores entravam com a bandeira do clube que minutos antes passeava pelo campo, levada por moças que iam angariando as moedas jogadas pelos torcedores para completar as eternas obras das gerais, lá do lado da Lagoa, no precário Estádio da Gávea. Antes ainda, entravam garotos-carregadores com grandes painéis de propaganda e davam a volta olímpica no campo anunciando Cafiaspirina, Urodonal, Leite de Rosas, Aspirina Bayer, Hidrolitol, Eucalol, Palmolive e coisas assim... Publicidade móvel, precursoras das placas atuais. O barulho era uma constante, com a Charanga do Jayme de Carvalho a todo pano. O técnico era Flávio Costa, conhecido como “o marido de Dona Florita Costa” – a qual mandava em tudo, até na escalação do time... Dizem ! Naquele dia, o maior jogador brasileiro de todos os tempos – na minha modesta opinião - o mestre Zizinho, deu um show de bola e nem o elegante center half do Vasco, um craque excepcional, o Príncipe Danilo Alvim, conseguiu pará-lo. Quase no final, apesar do Vasco ter um timaço, veio o gol de Valido, cabeçada da entrada da grande área, que o goleiro Barqueta não conseguiu pegar. Um delírio espantoso, Flamengo tricampeão, uma loucura total ! Dr. Borges pediu que eu corresse e pegasse a bandeira de córner do lado esquerdo das balisas onde o Barqueta levou o golaço do Valido. E assim foi feito...Eu tinha 7 anos e corria muito rápido. (O neto do Dr. Borges, Getúlio Brasil, que foi Vice-Presidente do Flamengo, me disse recentemente que essa bandeirinha, essa peça histórica de nosso futebol, deve estar com seu irmão mais velho, o Áldano). Na volta, mais Praia do Pinto, já em festa, com as “tendinhas” cheias de torcedores “enchendo a cara” de cachaça e cantando “Flamengo, Flamengo, tua glória é vencer...” Inesquecível ! Muito bom, como diz a canção: “Nossa vida era mais simples de viver. Não tinha tanto miserê, nem tinha tanto ti-ti-ti. No tempo que Don Don jogava no Andaraí...”
2.CUIDADORES CUIDADOSOS – Preocupa-me muito o despreparo de nosso País para o envelhecimento acelerado de nossa população. Em blog anterior, observei que as Unidades de Polícia Pacificadora - UPPs do Rio de Janeiro são acompanhadas de várias melhorias sociais para as favelas arrancadas do poder dos traficantes, mas nunca reservam uma sala que seja para que os velhos da comunidade possam ali passar o dia, bem cuidados e protegidos, enquanto seus parentes mais jovens vão trabalhar. Uma lacuna grave, sanável a baixo custo, pois também assinalei que os próprios idosos se entreajudariam, de modo a minimizar despesas com profissionais. Agora, ao removerem favelados das áreas de risco para outras moradias, dignas e seguras - providência que, como as UPPs, todos fluminenses devem aplaudir com entusiasmo - as autoridades continuam omitindo esse componente de política social que considero essencial ao bem estar da população idosa e facilitadora da empregabilidade de seus filhos e netos. Em contrapartida, gostei muito de ler no NEW YORK TIMES que, nos Estados Unidos, em 2008, 28% dos 3,2 milhões das cuidadoras domésticas de idosos americanos tinham 55 ou mais anos de idade. Estima-se que em 2018 o número total desse tipo de trabalhador, nos lares e instituições dos Estados Unidos, chegará a 4,3 milhões. E que o contingente das cuidadoras com 55 anos e mais vai crescer 30%. Sua trajetória profissional é geralmente a mesma: zelaram por algum familiar idoso e após sua morte ingressaram no ramo. Têm grandes vantagens comparativas: conhecem o estresse familiar nessa situação, respeitam a idade, não olham a velhice como uma doença, trocam experiências com os idosos e há mútua empatia. Sua limitação, em geral, é física: não poderem tratar de doentes que precisam erguer seguidamente. No mais, são ótimas. Carinhosas. Cuidadosas. Esse fenômeno, verificado nos Estados Unidos, ainda tem outra vantagem importantíssima: cria empregos para idosos, possibilitando que o conceito de “envelhecimento ativo”, muito praticado também na Europa, seja viabilizado. No Brasil, por exemplo, a empregabilidade da turma da terceira idade é praticamente nula, qualquer que seja sua qualificação e não se veem políticas públicas realmente eficazes para minimizar essa exclusão laboral, com a qual o País perde muitos braços e cérebros ainda aptos a contribuir para o desenvolvimento nacional. Tema que espero não faltar quando da tão ansiada reforma da legislação trabalhista brasileira.
3. UPPs RENTÁVEIS – Boa notícia para os cariocas. Os imóveis desvalorizados, por estarem situados nas áreas de metástase urbana, causada pela proximidade de favelas, estão recuperando quase imediatamente seus valores originais após serem resgatadas pela implantação das UPPs. O aumento da arrecadação futura, pelo Estado, do respectivo Imposto de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI), vai pagar boa parte do projeto. O restante, o aumento do ICMS do comércio revitalizado nessas mesmas áreas acabará cobrindo a médio prazo. A Política Estadual de Segurança deu tiro certeiro na mosca, com bala de prata !
4. EUROTURISMO EM CRISE – A crise bateu forte, principalmente, nos países europeus que dependem muito do turismo: Espanha, Grécia e Portugal. Caíram os fluxos turísticos provenientes dos Estados Unidos e de outras nações européias e a despesa média unitária dos viajantes e o impacto foi desastroso. O desemprego espanhol já supera 20% e em Portugal está em 10,5%. Essa taxa portuguesa é inédita, Portugal sendo historicamente um país de baixos níveis de desocupação. Tive um amigo português, humilde, trabalhador braçal, que ocasionalmente desempregado se queixou a mim, desesperado, dizendo: Doutor, estou perdido, porque a única coisa que sei fazer é trabalhar ! O esforço português se concentra nas exportações para os países africanos lusófonos, que estão crescendo aceleradamente Aliás, Portugal aposta muito no mercado da nova classe média brasileira para comprar seus maravilhosos vinhos, pois nosso País consome só 2 litros por habitante por ano e há larga margem para crescimento. Portanto, agora no inverno, vamos ajudar a indústria vinícola dos “patrícios”, minha gente !