domingo, 30 de maio de 2010

O DIA EM QUE O MOBRAL CHEGOU À LUA

1.FUTEBOL E VISÕES NAS AREIAS DE IPANEMA – Joguei futebol até os 17/18 anos de idade. Depois não deu mais. Paulo Azeredo, meu técnico de voleibol no Fluminense, reclamava da minha dupla dedicação esportiva. Os jogos do Campeonato Carioca de Juvenis, que eu disputava, eram aos domingos pela manhã. Afora os Campeonatos Colegiais pelo Mello e Souza, nessa época eu praticamente só jogava futebol na praia, em Ipanema, pelo Clube Lagoa, do Posto Nove, mas as partidas eram sábado à tarde. Acontecia eventualmente de eu chegar ao jogo de voleibol machucado ou cansado, porque atuara como centro-avante no dia anterior e os beques me marcavam muito duramente. Vai daí... Deixei o Lagoa com muita pena. Tinha grandes amigos no time, que era uma potência. Na linha jogavam, Huguinho Ibeas, Eduardo do Chaika, Serginho, Rogério, Lulu Adnet; na defesa, os irmãos Manhães – Alex, Carlinhos e Nandinho – mais o Raul (esse mesmo, o das pizzas !), Maneta, Rubinho e Sérgio Bilula. O dono do time era o Théo Sodré. O Lagoa era um contrassenso: a camisa era do Flamengo e o Théo botafoguense histórico, sobrinho do Mimi Sodré, fundador do alvinegro. E apesar do nome, o Lagoa só jogava na praia e nunca atuou na Rodrigo de Freitas, lagoa onde também havia areia e dois campos de futebol em frente à Montenegro. Nossos adversários na Liga de Ipanema/Leblon eram o Grêmio Leblon, Tatuis, Torino, Vidigal, Porangaba, Monte Castelo. Um momento memorável, para nós, garotos do Lagoa, foi o sábado em que os jogadores húngaros da famosa Seleção de 1954, em turnê pelo mundo como asilados, fugindo do “paraíso” comunista, foram ver nosso time em ação e alguns até jogaram uns poucos minutos conosco. Ficaram espantadíssimos com a nossa habilidade em dominar a bola na areia fofa e cheia de ondulações, conduzí-la, dar passes e chutá-la com precisão. O time magiar era repleto de craques, considerados os melhores do mundo na época: do goleiro Grosics ao ponta Czibor, incluindo Kocsis, Nándor Hidegkuti, Buzánszky, Bózsik e Budai, comandados pelo capitão da equipe, Ferenc Puskás e pelo técnico Gusztáv Sebes, todos davam show de bola. O poderio ofensivo dos húngaros era incrível; tomamos um 4 x 1 deles na Copa do Mundo na Suiça, embora nossa equipe fosse excelente. A imprensa apareceu no campo do Lagoa e tirou várias fotografias, estampadas nos jornais do dia seguinte. Foi a suprema glória da nossa turma ! Houve uma época em que o Lagoa teve sua sede social, em uma casa da Avenida Epitácio Pessoa (essa sim, na Lagoa !). Bailes e festas memoráveis, atividades culturais, conferências, sessões de cinema, peças teatrais etc etc. Espetaculares eram as sessões em que nosso amigo César dos Santos da Silva (do Chaika) mostrava suas incríveis habilidades paranormais. Aliás, César, mais tarde, e por muitos anos, foi convidado a percorrer vários países para exibir esse seu talento excepcional. Certa noite de apresentação no Lagoa, César chamou um dos nossos jovens associados e o hipnotizou profundamente. A seguir, deu-lhe inúmeras sugestões, testando sua reação. O auge aconteceu quando César disse ao paciente que ele estava na Praia de Ipanema, sentindo muito calor, e via, ao longe, uma silhueta de mulher que se aproximava. Nosso herói desabotoou a parte superior da camisa e mostrou que suava muito com o sol de Ipanema. A seguir, fixou os olhos no horizonte e avistou a miragem. César disse-lhe que ela estava pertinho e era linda... - Meu Deus,– sugeriu – é incrível ! É a Brigite Bardot... e acrescentou que ela sorria e vinha em sua direção. Estava de biquini e parecia que ia tirá-lo !!! Nessas alturas, sob o protesto da rapaziada e a aprovação das senhoras e moças presentes, César interrompeu a sessão porque o olhar lascivo do entusiasmado hipnotizado já superara os limites da malícia e chegara ao terreno da indecência. Nunca vi uma expressão facial tão sugestiva, mesmo nos grandes atores de cinema e teatro. Impressionante, memorável e inesquecível ! Muitas saudades do Lagoa e sua gente...
2. GERAÇÃO DE EMPREGOS PARA ESTRANGEIROS – Segundo dados da Coordenação-Geral de Imigração do Ministério do Trabalho e Emprego, no período de 2005 a 2009 foram concedidas 165.933 autorizações de trabalho no Brasil para estrangeiros, das quais 11.978 autorizações permanentes e 154.015 temporárias. À exceção de 2009, este número vem crescendo anualmente. Os trabalhadores estrangeiros são principalmente dos Estados Unidos (14,2% do total de autorizações) , seguidos pelas Filipinas (com 8,9%), Reino Unido (8,4%), Índia (4,4%) e França (4,3%). Do total geral, 90% das autorizações (149.281) referiam-se a profissionais com grau de escolaridade superior ou segundo grau completo. Efeitos visíveis da Globalização a que já aludimos anteriormente. E da descoberta, pelo mundo, das potencialidades e oportunidades da economia brasileira. Eu sugeriria que entre esses trabalhadores, vindos do exterior, estivessem calceteiros portugueses, importados pela Prefeitura do Rio de Janeiro para recuperar nossas calçadas de pedra portuguesa que estão sendo destruídas velozmente pelo desconhecimento dos nativos a seu respeito. Pedras portuguesas autênticas são fixadas pela perícia dos artífices que as colocam, umas contra as outras, usando apenas terra, de modo a preservar a permeabilidade às águas pluviais e evitar alagamentos e enchentes. Da mesma forma, não apresentam desníveis, cuja existência acarreta seu deslocamento pelos transeuntes, criando os indesejáveis buracos. Usar cimento para fixá-las e “varrer” calçadas com aqueles jatos diabólicos de água sob pressão vão acabar com as belas calçadas decoradas de nossa Cidade ex-Maravilhosa.
3. ALTO PARAÍSO DE GOIÁS - Em 1973 o MOBRAL assinou seu Convênio de Alfabetização com Alto Paraíso de Goiás, o único Município brasileiro que ainda não o tinha feito anteriormente. E assim o MOBRAL “fechou” o Brasil. Mário Henrique Simonsen foi até o Presidente Médici para comemorar o feito inigualado, até então, por qualquer outro órgão público. Nem os Correios, o Exército ou o IBGE estavam em todos os Municípios... Alto Paraíso de Goiás era um centro de garimpo e praticamente só tinha população flutuante. Nesse primeiro convênio atendemos a grupos bastante marginalizados: prostitutas, mineradores por conta própria, ambulantes, sem terra etc etc É lá, em Alto Paraíso, que coincidentemente fica o exótico VALE DA LUA, considerado um dos dez lugares mais estranhos da Terra. Suas formações rochosas de quartzo e outros cristais, situadas a 38 quilômetros da sede do Município, estão entre as mais antigas e também mais diferentes do planeta, formando piscinas naturais de beleza exótica. Dizem que parece solo lunar. Daí o nome. É.. mas havia brasileiros necessitados e o MOBRAL chegou lá após apenas 3 anos de atuação ! Mais uma meta alcançada e uma espetacular vitória a relembrar...

5 comentários:

  1. Uma delícia sua narrativa do time do lagoa, principalmente com os craques do Honved assistindo, foi com certeza um acontecimento...
    Um beijo e saudações hexa
    marilene

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  2. Arlindo,
    Foi sábio o Paulo Azevedo em exigir obediência ao voleibol, tirando da areia um centro-avante do Lagoa.Assisti várias vezes estes jogos de peladas na praia e portanto posso dizer que entre os violentos choques futebolísticos e suas belíssimas cortadas nas quadras você sempre foi total Voleibol.
    Na época do Colegial o nosso professor de ginástica do Mello e Souza,assim como técnico de voleibol do Fluminense não era o Anné?/

    As Pedras Portuguesas viraram ruínas nas mãos de uns pobres coitados trabalhadores que nem sabem os séculos lindos que estão martelando,sob a ordem de certos síndicos avassaladores , que administram seus pequenos impérios em terríveis batalhas contra seus codôminos. Ufa!/

    A esta aventura bem sucedida do Mobral Parabéns, e a lembrança bela de um Vale da Lua e esta esperança de ser Brasil.

    Saudações Thereza

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  3. Marilene, há cinco anos estive na Hungria e comprei de um velho lojista de Budapeste duas camisetas com as fotos dos 11 craques do Honved. Uma para mim e outra para meu querido amigo Jonjoca (do voleibol). O vendedor percebeu que falávamos uma língua estrangeira e perguntou acerca do meu interesse naquela camisa e eu expliquei que se tratava de um dos melhores times que vi jogar em todos os tempos. Ao saber que eu era brasileiro ficou até emocionado. Thereza, Paulo AZEREDO foi Professor de Ginástica do primário do Mello e Souza. Newton Anet - que foi técnico de futebol do Vasco da Gama - era professor do ginásio do Mello e Souza e dirigia nossas equipes nos Jogos Colegiais. As calçadas em mosaico são "marca registrada" de nossa Cidade para todos os turistas do mundo e vão se perder em breve. Arlindo

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  4. Arlindo,
    Daquela excelente equipe húngara, acrescento à sua prodigiosa memória os nomes de Lantos, Lorant, Zakarias e M.Toth. Faço pequeno reparo que em nada invalida o texto: o placar de 4x2. Sendo que o Brasil teve dois jogadores expulsos.
    Roberto Pimentel.

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  5. Roberto: obrigado pelas correções. O Lantos eu sabia e esqueci de citar. Os demais não estão na minha memória, definitivamente, e o placar eu "tinha certeza" dos 4 x 1 e estava errado. Realmente, tivemos jogadores expulsos mas o domínio dos magiares foi indiscutível e eles só não foram campeões do mundo por causa do "sobrenatural de Almeida" e do paraquedista Fritzwalter...rsrs Arlindo

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