sexta-feira, 23 de abril de 2010

BRASÍLIA E VOLEIBOL EM FESTA DAS ESTRELAS

1. CINQUENTA ANOS DE BRASÍLIA - A moreníssima Vera Lúcia Ferreira Maia jogava voleibol no Fluminense, frequentava o Arpoador e era filha da famosa Nora Ney, uma das mais importantes cantoras de nossa música romântica. Verinha disputou Miss Guanabara pelo Fluminense e venceu. No Concurso de Miss Brasil, tirou o terceiro lugar. Nada mau, pois a primeira colocada foi a lindíssima gaúcha Ieda Maria Vargas, que depois ganhou o Concurso de Miss Universo. Vera, aliás, também representou nosso País no Concurso de Miss Mundo, do qual foi semifinalista. Lembro-me disso, a propósito dos 50 anos de Brasília, aonde o timaço de voleibol do Fluminense foi jogar na inauguração do Ginásio de Esportes do Iate Clube, no início dos anos 60. Ficamos hospedados no Brasília Palace Hotel, perto do Palácio Presidencial e conhecemos a Capital ainda com os barracos do Núcleo Bandeirante e muitas obras inacabadas. Tudo era feito com muita pressa e às vezes a qualidade deixava a desejar. O belo Ginásio que inauguramos, com uma vitória estrondosa, nos impressionou muito por ser sua quadra enterrada, bem abaixo do nível do solo. Coisas da arquitetura inovadora de Brasília. Na Capital, participamos de diversos eventos esportivos e culturais. Lembro de uma palestra do Professor Hermógenes e suas duas filhas, também professoras de Hatha Ioga, atividade da qual foram pioneiros no Brasil, com sua Academia localizada na sobreloja envidraçada de um prédio na Rua Visconde de Pirajá, próximo à esquina com a Rua Gomes Carneiro. Em outra das noites, convidados exatamente pela Miss Fluminense e Miss Guanabara, nossa amiga Vera Lúcia, fomos a uma festa no Clube do Congresso, onde o Presidente da República, João Goulart, recepcionou as três primeiras colocadas do Concurso de Miss Brasil que, naquela época, era um evento prestigiadíssimo. Uma festa magnífica, só que, ao seu término, de madrugada, não havia táxi, ònibus ou qualquer transporte que nos levasse de volta ao Hotel. E assim, como bons atletas, andamos infindáveis quilômetros na madrugada da NOVACAP, ainda sem infraestrutura. Inesquecível ! Poucos meses depois, fomos surpreendidos com a notícia de que o Ginásio que acabáramos de inaugurar virara piscina...de água barrenta. Defeitos de impermeabilização e rebaixamento do lençol haviam causado a invasão do Ginásio pelas águas subterrâneas. Típico dos tempos pioneiros de Brasília, marco inicial da “Marcha para o Oeste” e da inflação galopante que nos vitimaria por muitos anos. Em compensação, o Brasil pode orgulhar-se de ter o mais lindo e monumental conjunto arquitetônico moderno do mundo. Viva Brasília ! Mas não nos esqueçamos, jamais, que dia 21 de abril é o Dia do Alferes Tiradentes e que 22 de abril o Dia do Descobrimento do Brasil. Omissão imperdoável !
2. VOLEIBOL DE ESTRELAS - É impossível deixar de falar na Superliga de Voleibol Feminino, vencida pelo OSASCO com grandes méritos, especialmente considerando o valor das equipes suas adversárias, em especial São Caetano (da Semifinal) e Rio de Janeiro (da Final). As últimas partidas, de elevado nível técnico, foram um desfile de estrelas de primeira grandeza, com jogadas emocionantes e que ressaltam a pujança do voleibol feminino brasileiro. Aliás, há algum tempo, as partidas femininas do esporte da rede se tornaram muito mais interessantes que as masculinas. Os pontos são mais disputados, a bola custa a cair, há mais jogo. No masculino praticamente só existe ataque, desde a violência do saque até as cortadas fulminantes, indefensáveis, o que torna o jogo monótono, sem sequências mais longas. Mas voltando às moças, além de termos algumas das melhores jogadoras adultas do mundo, o processo de renovação é impressionante, pela qualidade das atletas jovens. O paradigma desse rejuvenescimento permanente esteve representado – e muito bem – pela craque Natália do OSASCO que, de forma espetacular, alia força, disciplina tática e requinte técnico. Está de parabéns a CBV - Confederação Brasileira de Voleibol, sob a direção de Ary Graça, cujo bom trabalho de renovação e manutenção preserva nossa hegemonia mundial !
3.FMI AVALIA A ECONOMIA GLOBAL E BRASILEIRA – Saiu a avaliação econômica de abril pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). O relatório estima o PIB do Brasil crescendo 5,5% em 2010, acima da média mundial, que ficaria em 4,25%. Mas alerta para o perigo da inflação em nosso País, que na minha opinião deveria aumentar seus juros imediatamente. Outra complicação é o nosso deficit externo, que só não incomoda muito a curto prazo porque temos grandes reservas, acima de US$ 200 bilhões. Em termos gerais, a recuperação mundial excede as expectativas, mas os países ricos crescerão menos que as nações em desenvolvimento. O combate ao desemprego é visto como o grande desafio do futuro próximo e o FMI preconiza maiores investimentos em educação e qualificação profissional para ampliar a empregabilidade das populações trabalhadoras. Outro ponto que exige atenção é a regulamentação mínima necessária para impedir que os agentes financeiros repitam os crimes que cometeram e levaram à crise. Mesmo sendo um liberal, creio que devem existir regras acauteladoras. Agir só "a posteriori" nem sempre é suficiente...
4. DIVERSIDADE ESPORTIVA – Voltando aos jornais franceses, dos quais eu gosto tanto e que me foram trazidos de Paris pela minha filha Cláudia, quero comentar o variado conteúdo do L`ÈQUIPE, que se intitula “Le Quotidien du Sport et de l`Automobile”. Admiro enormemente a diversidade esportiva dos países desenvolvidos, que contrasta com a mesmice brasileira, onde quase tudo é futebol...dentro e fora de campo. Últimamente, até que o voleibol, o basquete, a natação, o judô e o atletismo ganharam algum espaço, o que se deve ao trabalho eficiente do COB, dirigido por Carlos Arthur Nuzman que, sendo inteligente, pode entender bem como a diversidade esportiva amplia e democratiza as oportunidades dos jovens para se realizarem nessa importante atividade humana. Mas ainda é pouco e tenho esperança que as Olimpíadas do Rio funcionarão também nesse sentido, mostrando novos caminhos, modalidades ainda desconhecidas no Brasil e para as quais certamente temos material humano potencialmente apto. Confesso que minha vida seria menos feliz se eu não tivesse tido a chance de preencher essa dimensão de minha personalidade, através da qual eu me expressava, construía uma velhice sadia e com uma rotina atraente. Por acaso, achei um esporte ao qual me adaptei e no qual fiz carreira, mas muitos outros de minha geração devem ter perdido essa oportunidade pois o “seu esporte” simplesmente não estava disponível no Brasil. Nas 18 páginas do L`ÈQUIPE há 9 dedicadas ao futebol, 1 ao rugby, 1 ao basquete, 1 à publicidade, 1 ao golfe, sendo as 5 restantes divididas entre inúmeros esportes: voleibol, surf, halterofilismo, atletismo, curling, boxe, tênis, iatismo, hóquei no gelo, judô, ciclismo, pentatlo moderno, handebol, automobilismo, motociclismo, ski alpino. Retrato do rico mosaico esportivo francês. Uma delícia para um esportista curioso e eclético ! A posição de supremacia do futebol é quase permanente, mas a distribuição entre os demais esportes varia de acordo com suas temporadas e as estações do ano, mas há modalidades para todos os gostos... Essa espécie de desenvolvimento é que precisamos conquistar para o Brasil, gigante demográfico e étnico que pode ser uma grande potência esportiva. E a Educação tem um papel primordial a desempenhar nessa desejável evolução.

Um comentário:

  1. Inolvidável suas lembranças sobre Brasília. Acrescento à sua biografia alguns dados pertinentes. Em 1961 ali estive com a equipe do Botafogo e do Flamengo para a comemoração de seu primeiro aniversário. Viajamos no mesmo avião da FAB, um DC-3 – com saída do Santos Dumont, escalas em Santa Cruz, ainda no Rio, Pampulha (BH) e, finalmente, Brasília. Uma viagem e tanto. Jogamos numa quadra de cimento, aberta, coberta de poeira vermelha (lembra-se do “lacerdinha”?), numa área entre prédios inacabados dos antigos institutos anteriores ao INPS. Retornamos à capital em 1963, também por ocasião de seu terceiro aniversário de fundação, ainda atuando pelo Botafogo. Desta feita viajamos num AVRO, que fez o percurso sem escalas em 2h 40 min. Os jogos foram realizados no Teatro de Brasília, especialmente preparado para o evento. À altura do nível da rua foi montado um tablado que serviu de campo de jogo. Era impressionante: a construção tanto se erguia acima, como para baixo. Curioso, desci o equivalente a vários andares abaixo do nível da quadra, tentando perscrutar a arquitetura do teatro. A mim me pareceu um labirinto infindável. Na folga, direito a passeio no lago Paranoá, na Gilda, a lancha da Presidência.
    Quanto á renovação do voleibol brasileiro, tenho minhas dúvidas quanto ao mérito atribuído ao Dr. Ary. São muitos os treinadores que se dedicam a esta árdua tarefa sem medir esforços e sacrifícios. Poucos são tão bem recompensados financeiramente. Enquanto isto, a entidade, mantida com enormes recursos provenientes do patrocínio às seleções do Banco do Brasil se locupleta deste trabalho silencioso. Basta aentir que as Federações são mantidas à míngua de recursos. Além disso, considerado o tamanho do país, sabemos todos que estamos muito longe de alcançar um nível de proficiência desportiva ideal. Cada vez mais sinto que “Deus é brasileiro”. Fomos até campeões olímpicos "sem querer" (1992)!
    Quanto à diversidade esportiva francesa que contrasta com a mesmice brasileira, discordo do trabalho do COB, centralizador em suas concepções e autoritário. O Nuzman, que é muito inteligente, necessariamente não é um expert em todas as áreas em que atua. Assim, creio que está mal assessorado ou, então, dirá que não é da competência do COB administrar certas facetas do desporto, cabendo a cada Confederação tal mister. Mas não deixa de influenciar (negativamente)o Ministério dos Esportes e o decadente Ministério da Educação no que tange à prática da Educação Física no país. Por certo “o desenvolvimento que precisamos conquistar para o Brasil” ainda está por vir. Quem viver verá!
    Roberto Pimentel.

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