domingo, 16 de maio de 2010

FUTURO DO EMPREGO ESTÁ NOS VELHOS

1.AS TENDÊNCIAS DO MERCADO DE TRABALHO – para quem ainda está na ativa ou pretende ajudar os mais jovens a buscar seus caminhos profissionais, selecionei algumas reflexões sobre o futuro do mercado de trabalho. Não há muitas novidades e estas idéias já fazem parte de um certo consenso a respeito do cenário do mundo econômico que vem por aí... Ao longo dos tempos, as sociedades foram sofrendo mudanças nos setores produtivos que estão se acelerando. Do mundo eminentemente agropastoril que perdurou por milênios passamos às sociedades industriais que duraram uns poucos séculos. Destas, evoluímos para o estágio pós-industrial, no qual:
• predomina o Setor de Serviços, que cresce cada vez mais (sobre a Indústria, segunda empregadora e a Agricultura, cuja mão de obra decresce rapidamente);
• as tecnologias dominantes na sociedade são intensivas em Conhecimento,
• os serviços de tecnologias de informação e comunicação (TIC) são cada vez mais consumidos;
• os processos de produção repousam primordialmente na interação homem/homem;
• o principal fator de riqueza é a inovação, a produtividade intelectual.

Vivemos a era da Globalização, acelerada pelo desenvolvimento crescente das TIC e dos transportes. Assim:
• há cada vez maior permeabilidade entre os mercados dos diversos países, de modo que a competição não respeita limites territoriais;
• as sociedades agropastoris remanescentes (da África, por exemplo) são colocadas em confronto com as sociedades industriais (emergentes do Terceiro Mundo) e ambas com as sociedades pós-industriais (dos países ricos), todas competindo pelos mesmos mercados mundiais;
• o deslocamento de fábricas e de centros de produção de serviços para países com melhores condições de competição torna-se corriqueiro, da mesma forma que as exportações e importações crescem rápido. É cada vez mais comum trabalhar em um país e morar em outro;
• As tecnologias fluem mais livremente entre as nações, ocasionando certa uniformização dos processos produtivos, só descontinuada quando ocorrem inovações que levam a um salto e novo estágio qualitativo;
• Para profissionais de ponta o mercado passa a ser planetário;
• O estabelecimento da Sociedade do Conhecimento (pós-industrial) é compatível com a Era da Globalização;
• A Globalização exige pesado investimento na ciência, na criação de tecnologias e seu desenvolvimento, no estímulo à criatividade e na promoção da educação, esta entendida, necessariamente, como educação continuada e universal – para todos, durante toda vida.
Os efeitos da Globalização sobre o mercado de trabalho são os mesmos decorrentes da aceleração do progresso derivada da evolução científico-tecnológica:
• postos de trabalho são destruídos em massa, principalmente nos setores industriais;
• Já na década dos 90, com a abertura da economia brasileira, a perda de postos de trabalho assumiu proporções dramáticas, pois a ocupação chegou a cair em 1,6 milhão de 1995 para 1996 !;
• A globalização, ao expor os setores produtivos à competição internacional, favorece as tecnologias poupadoras de mão-de-obra, que permitem redução de custos e maior competitividade;
• exige-se cada vez maior escolaridade e qualificação profissional dos trabalhadores para o exercício da mesma ocupação;
• proliferam novas profissões, principalmente nos setores econômicos mais dinâmicos;
• desaparecem ou tornam-se obsoletas muitas ocupações antigas e tradicionais.
Em termos de profissões, as mudanças podem ser depreendidas das alterações sofridas pela Classificação Brasileira de Ocupações – CBO que, em 1994, contava com 2.356 ocupações. Com os acréscimos derivados da evolução do mercado de trabalho, o número de ocupações registradas chega agora a 2.511.
Alguns exemplos bem conhecidos, na cadeia produtiva da manutenção de automóveis, são ilustrativos das descontinuidades do mundo do trabalho atual:
• Quando surgiu a nova geração de carros com informática embarcada, começou a derrocada das pequenas oficinas de conserto de automóveis e com ela a perda de muitos milhares de empregos, especialmente para jovens aprendizes das classes mais pobres que ali buscavam sua primeira ocupação e o início de uma carreira ou de um empreendimento;
• Esse vácuo está sendo parcialmente preenchido (em muito menor escala) pelas borracharias e pelas atividades de reciclagem (que tem futuro em todo mundo, principalmente nos grandes centros urbanos, desde que a pesquisemos e saibamos incentivá-la e apoiá-la);
• Um exemplo dramático: o pneu que não fura já foi desenvolvido e seu protótipo está sendo testado e aperfeiçoado para ter preço competitivo. Um salto tecnológico desse tipo aniquilará muitos milhões de empregos em todo o mundo (no caso, nas borracharias);
• A robótica, a nanotecnologia e muitos outros ramos similares estão aí presentes, para lembrar-nos cotidianamente do espectro do desemprego em massa.
As novas tecnologias, poupadoras de tempo e mão-de-obra, elevaram o desemprego a níveis que parecem irreversíveis - de tão duradouros - e expulsaram para o mercado informal uma série enorme de ocupações que não têm viabilidade econômica no setor formal, sujeito à regulação e à tributação.
Uma das tarefas mais importantes dos formuladores de políticas públicas de trabalho é a busca de alternativas para levar a uma sociedade sem desemprego, com informalidade em proporções normais (necessária em função da liberdade econômica, da criatividade do empreendedor e da inviabilidade econômica das empresas muito pequenas).
Caminhos Alternativos para um Mundo sem Desemprego seriam:
• Trabalho social voluntário incentivado (renúncia fiscal, precedências, prêmios etc);
• Trabalho social semi-voluntário de baixa remuneração;
• Trabalho em meio expediente;
• Trabalho Sazonal Regular;
• Trabalho na própria moradia ou em Centros próximos à moradia para idosos e pessoas com necessidades especiais (Teletrabalho);
• Políticas Compensatórias e Contraprestação Social (das “bolsas” doadas pelo Governo);
• Mobilização de desocupados em emergências, catástrofes naturais; grandes acidentes; epidemias, incêndios florestais;
• Trabalhos Sociais Permanentes: vigilância ambiental (proteção à flora e à fauna; combate à poluição etc); assistência aos desvalidos em geral; tarefas de segurança comunitária; atividades de prevenção em geral.

2.GRAY POWER – Nessa sociedade do porvir – é bom lembrar – predominará uma população de idade média sensivelmente mais alta do que a de hoje. Assim, uma boa idéia de quem teme as rápidas mudanças do mercado de trabalho é escolher carreiras cujas atividades tenham relação com as necessidades dos idosos. Aliás, os próprios velhos, com mais saúde, continuarão por mais tempo na força de trabalho. Inclusive porque faltará mão-de-obra: os jovens, sozinhos, não darão conta da oferta de empregos e das oportunidades de trabalho em geral. Outra mudança importante será a crescente força política da turma da terceira idade – o “gray power” vem aí, com força total...O envelhecimento populacional torna indispensável que se conheça melhor o idoso o que resultará na quebra de muitos mitos. Mas temos onde aprender: com as nações cuja pirâmide populacional já mudou há muitos anos, como o Japão e os países escandinavos. Um exemplo muito interessante vem da pesquisa de Bo G Eriksson, da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, que estudou um grupo de indivíduos selecionados aleatoriamente, nascidos em 1901 e 1902, que foram acompanhados de perto durante suas vidas inteiras. Eriksson focou o período dos 70 aos 90 anos de idade dessas pessoas. E descobriu que as pessoas se tornam cada vez mais diferentes à medida que envelhecem, ao contrário do senso comum. "A percepção das pessoas idosas como tendo interesses, valores e estilos de vida semelhantes pode levar à discriminação baseada na idade. No entanto, descobri que, conforme as pessoas envelhecem, esses estereótipos se tornam cada vez mais falsos," diz Eriksson.

4 comentários:

  1. Arlindo, estes dois textos são muito oportunos. Mostram que há tantos aspectos a serem conside-rados no cenário que um conclusão parece impossí-vel. Tento acrescentar mais alguns:
    1. Não se dá uma atenção, que julgo necessária, ao fato de que a globalização dos mercados também significa uma concorrência global pelas oportunidades de trabalho e renda.
    2. Por trás disso há a considerar o resgate da pobreza - de viver à míngua - de centenas de milhões de humanos na China, na Índia, na África.
    3. Na fase de ajustes imediatos os EUA e a Europa poderiam se equilibrar com os trabalhos exigidos nas reformas das matrizes energéicas.
    4. No Brasil nem se atinou ainda com o problema. Na verdade as percepções econômicas estão ainda focadas na industrialização; a ocupação seria conseqüência do crescimento do PIB. Subvenciona-se a vida na pobreza, em parte no ócio, mas também na floresta. Grandes projetos de reflores-tamento poderiam alimentar indústrias verdes na costa da região norte - siderúrgicas, papeleiras etc. - conforme o modelo chinês, acabando com a pobreza de poucas dezenas de milhões de cidadãos.
    5. Além do envelhecimento haverá de ser considerada uma redução das populações, que resultrá do aumento do nível de instrução e da urbanização. Em princípio estas tendências são saudáveis no contexto, que você descreve.
    6. Cabe um "novo" assunto: Ocupação para a Terceira Idade / aposentados.

    Pensei que os seus dois textos caberiam bem no blog do INSADI. Você concordaria com a reprodução?

    Abraço
    Harald

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  2. Caro Harald: grato pelo comentário. Não há restrições à reprodução do meu blog. O texto é despretencioso, para o público em geral. Segundo a projeção do IBGE feita em 2008, a população brasileira crescerá até 219 milhões de habitantes em 2039 e decrescerá a partir de 2040. Os grupos etários mais jovens vão diminuir bem antes disso, permitindo uma revisão de prioridades de investimento. Para uma abordagem mais técnica e completa, procure os textos do Professor Titular de Demografia da UFMG, Dr. Eduardo Rios Neto. Inclusive ele fez uma ótima palestra na FEA-USP em 2009, cujo PPS está disponível no GOOGLE e que projeta a oferta e procura de trabalho no futuro e tece outras considerações mais profundas a respeito. Arlindo Lopes Corrêa

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  3. Arlindo:
    Excelente textos sobre chamada 3ªidade.Como vivi na Suécia na década dos 80,sendo uma quarentona e trabalhando com adaptação dos estrangeiros( invandrare) de língua espanhola passando por todas as idades-confirmo a pesquisa de Bo Erikson, entretanto a vida oferecida para os idosos,tanto suecos como invandare era dirigida pela Previdência Social e sem parternalismo ( através dos impostos pagos pela população).
    Vantagens: taxi gratuito para locomoção;apartamentos simples alugados por baixo preço;locais que nem poderia chamar de
    asilos e sim de pequenos hoteis para os de idade mais avançada e que viviam sozinhos,sem companheiros- com uma equipe médica atenta;locais gerais específicos para caderantes;
    Ocupações remuneradas ligadas à profissão passada
    Enfim ,um pequeno país,com pequena população (penso que isto não é justificativa) com a Saúde,a Educação,a Habitação funcionando.
    O único porém, ou umn dos únicos é ser a Suécia um país tristinho,com pessoas introvertidas e seus quase seis meses sem luz solar.
    Um dia nosso Brasil terá estas vantagens,somando a seu povo alegre , extrovetido e criativo. Por isto Arlindo entendo que o caminho e este que gente como você aponta e vai a luta.
    Saudações Thereza

    ocupações remuneradas-enfim um programa digno

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  4. Thereza: grato pelo comentário que ilustra como um País envelhecido e rico como a Suécia trata a terceira idade (o mesmo fazem, há muito, as demais nações escandinavas). Outros países europeus deram esse mesmo tipo de tratamento ao tema, porém a falência financeira de seus sistemas de previdência está obrigando à reformulação e redução desses benefícios. Mas mesmo assim ainda vão ficar bem melhores que o Brasil. No Brasil creio que uma política de emprego específica para os idosos seria totalmente viável. Arlindo

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